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Um em cada quatro municípios do Cerrado tem menos de 20% de vegetação nativa

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Lúcia Chayb Diretora eco21.eco.br @eco21_oficial @luciachayb luciachayb@gmail.comPor trinta anos foi a jornalista responsável pela revista ECO21 (1990/2020)

Ocupando 30% do Cerrado, Matopiba respondeu por 39% da perda líquida
de vegetação nativa no Cerrado entre 1985 e 2024

O Cerrado, segundo maior bioma brasileiro, ocupando 23,3% do país (198,5 milhões de hectares), passou por profundas transformações nas últimas quatro décadas. É o que mostra um detalhado levantamento feito a partir da Coleção 10 de mapas e dados sobre cobertura e uso da terra no Brasil do MapBiomas que está sendo lançado nesta quarta-feira (01/10). Ele cobre as mudanças ocorridas entre 1985 e 2024, quando o bioma perdeu 40,5 milhões de hectares de vegetação nativa, o equivalente a 28% de sua cobertura original. Essa extensão equivale a 1,4 vezes a área do estado da Bahia. 

Atualmente, 47,9% do Cerrado são ocupados por uso antrópico e 51,2% permanecem cobertos por vegetação nativa. Quase metade (47,8%, ou 48,6 milhões) da vegetação nativa remanescente está concentrada na região conhecida como Matopiba, formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. A Formação Savânica foi o tipo de vegetação nativa mais impactado, perdendo 26,1 milhões de hectares (32%) em 40 anos. Apesar disso, ainda é a cobertura natural predominante, com 28,4% do bioma.

Em 1985, 42% dos municípios do Cerrado tinham predomínio da agropecuária; em 2024, essa proporção aumentou para 58% dos municípios. Por outro lado, o percentual de municípios com mais de 80% de cobertura de vegetação nativa caiu de 37% em 1985 para 16% em 2024 – ano em que 24% dos municípios têm menos de 20% de vegetação nativa. Esses percentuais consideram a proporção de vegetação nativa em relação à área total de cada município.

O Matopiba, que ocupa 30% do Cerrado, respondeu por 39% (15,7 milhões de hectares) da perda líquida de vegetação nativa no bioma desde 1985, tornando-se uma nova fronteira agrícola. Na última década (2015-2024), o Cerrado perdeu 6,4 milhões de hectares de vegetação nativa, dos quais 4,7 milhões de hectares foram no Matopiba (73%). Nos últimos 40 anos, a área de agricultura aumentou 24 vezes na região (+5,5 milhões de hectares).

“O Cerrado vem sendo transformado em ritmo acelerado nas últimas quatro décadas. Com maior supressão da vegetação nativa entre 1985 e 1995 e depois nas décadas seguintes, a agricultura se expandiu e se intensificou, consolidando-se como região central da produção agrícola do país, principalmente para grãos. Mais recentemente, o Matopiba se consolidou como a principal fronteira agrícola, concentrando grande parte da perda recente da vegetação nativa, restando metade da vegetação nativa remanescente no bioma”, comenta Bárbara Costa, analista de pesquisa  do IPAM e da equipe do Cerrado do MapBiomas.

Expansão agropecuária no Cerrado é de 74% em quatro décadas

No Cerrado como um todo, as atividades agropecuárias cresceram 74% entre 1985 e 2024. A área de pastagem aumentou 14,7 milhões de hectares (+44%) no período, atingindo seu pico em 2007, com 54,5 milhões de hectares. Mesmo com uma redução de 12% em relação a esse pico, as pastagens continuam sendo o principal uso antrópico, ocupando 24,1% do bioma. A silvicultura também registrou crescimento, totalizando um aumento de 2,7 milhões de hectares (+446%) de 1985 a 2024.

A agricultura, proporcionalmente, foi o uso da terra que mais se expandiu, com um aumento de 533% (+22,1 milhões de hectares) desde 1985. As lavouras temporárias sozinhas aumentaram 21,6 milhões de hectares, ocupando agora 25,6 milhões de hectares do Cerrado. Quase metade (49%) da área de cultivo de soja do Brasil está localizada no Cerrado em 2024. O cultivo de cana-de-açúcar quadruplicou entre 2003 e 2013, de 600 mil hectares para 2,4 milhões de hectares, com São Paulo, Goiás e Minas Gerais respondendo por 2,8 milhões de hectares desse cultivo no bioma em 2024.

A agricultura perene mapeada aumentou 500 mil hectares (aproximadamente 4 vezes) em 40 anos, cobrindo agora 700 mil hectares. Mais da metade (54%) desta agricultura perene do Cerrado é destinada ao café, com Minas Gerais concentrando 84% da área dessa cultura do bioma. A área cultivada com café cresceu 300 mil hectares entre 1985 e 2024. O cultivo de cítricos, que ocorre principalmente em São Paulo (79% da área de cítricos do bioma), também registrou um aumento significativo de 200 mil hectares (+387%).

Em 2024, 1,5 milhão de hectares de vegetação nativa foram desmatados no Cerrado, sendo um milhão de hectares de vegetação primária e 500 mil hectares de vegetação secundária. Na última década (2015-2024), uma média de 73% do desmatamento ocorreu em áreas de vegetação primária.

Os estados com maior proporção de vegetação nativa no Cerrado em 2024 são Piauí (79%), Rondônia (78%), Maranhão (69%) e Tocantins (66%). Os estados com menor proporção de vegetação nativa no Cerrado em 2024 são São Paulo (17%), Mato Grosso do Sul (25%), Paraná (34%) e Goiás (36%). Entre 1985 e 2024 a área no Cerrado ocupada por agricultura em São Paulo passou de 10% para 45%; no Paraná, passou de 12% para 35%; na Bahia de 2% para 24%. Entre 1985 e 2024 a área de Cerrado ocupada por pastagem passou de 5% para 40% no Pará; de 36% para 44% no Mato Grosso do Sul; de 1% para 17% no Maranhão. 

Cerrado concentra um terço da área de usinas fotovoltaicas

Um terço (32%) da área mapeada de usinas fotovoltaicas no Brasil está no Cerrado em 2024 (11,3 mil hectares). Houve um aumento de 10,5 mil hectares em relação a 2016  (+1273%). Do total ocupado por usinas fotovoltaicas, mais de um terço (36%) eram áreas de formação savânica; outro terço (37%) eram pastagens. Entre 2016 e o ano passado, 4,4 mil hectares de vegetação nativa foram convertidos para usinas fotovoltaicas.

Superfície natural de água cai quase 30% em 40 anos

Embora 2024 tenha registrado a maior superfície de água desde 1985 (1,6 milhão de hectares, ou 0,8% do bioma), 60,4% dessa área foi de superfície de água antrópica, como hidrelétricas, reservatórios, aquicultura e mineração. A superfície de água natural retraiu 249 mil hectares (-27,8%). O balanço de ganhos e perdas de superfície de água das bacias hidrográficas no Cerrado mostra que 90,8% das bacias hidrográficas tiveram perdas de superfície natural de água, porém 68,5% ganharam superfície antrópica de água. Ainda assim, 26% das bacias hidrográficas perderam superfície tanto natural como antrópica de água.

“Os recursos hídricos também estão sob pressão no Cerrado. Considerando que mais da metade do bioma está em imóveis rurais, é fundamental promover incentivos e políticas públicas que conciliem produção, conservação e recuperação da vegetação nativa. Só assim será possível garantir  a segurança hídrica, alimentar e climática do Brasil”, destaca Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM e coordenadora das equipes do Cerrado e Fogo no MapBiomas.

Categorias fundiárias e áreas protegidas

Territórios Indígenas (97%), Áreas Militares (95%) e Unidades de Conservação (94%) apresentam os maiores percentuais de vegetação nativa no Cerrado. Em contraste, terras sem registro fundiário (49%), imóveis rurais (45%) e áreas urbanas (7%) têm menos da metade de vegetação nativa.

Áreas privadas com registro fundiário georreferenciado ocupam 129 milhões de hectares (65% do bioma), enquanto terras públicas ou sem registro fundiário georreferenciado respondem por 53 milhões de hectares (27%). Áreas protegidas ou de uso coletivo cobrem 14 milhões de hectares (7%). Do total de imóveis com Cadastro Ambiental Rural (CAR) no Brasil, 16,9% estão no Cerrado (1,2 milhão).

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