Projetos unem arte e ativismo para transformar os grupos culturais e periféricos em agentes de mudança na região amazônica
Dez coletivos do Amazonas – sete de Manaus e três de outros municípios do estado – deram o primeiro passo para ajudar suas comunidades a enfrentar as questões climáticas que passaram a fazer parte do seu dia a dia, como períodos alternados de secas extremas e enchentes. Eles foram selecionados para o Projeto Grito Rua – Clima e Cultura para participar de uma jornada de formação com oito aulas virtuais que abordaram os impactos da crise climática e o papel da arte como instrumento de mobilização e resistência.
O projeto é resultado da parceria entre a A Associação Intercultural de Hip Hop Urbanos da Amazônia (AIHHUAM), que atua na promoção da cultura urbana como instrumento de transformação social, e do Instituto Cultura, Comunicação e Incidência (ICCI). O objetivo é destacar a necessidade urgente de enfrentar os efeitos das mudanças climáticas nas periferias, onde os impactos são mais severos e o acesso à informação e aos recursos ainda é limitado.
Quem aproveitou a experiência foi Rafaela Pimentel Amaral, 31 anos, responsável pelo Espaço Buriti, do Parintins (AM). Ela explica que a formação ajudou a entender a complexidade das mudanças climáticas e os impactos sobre sua região. “Foi uma imersão para ouvir e também ser desafiada. Então, foi um momento que ajudou a entender o que acontece não só na Amazônia ou no Brasil, mas no mundo”, explica.
Depois da formação, Rafaela organizou rodas de conversas com jovens na Orla da União, bairro periférico da cidade de Parintins. Além das conversas, promoveu intervenções artísticas nos flutuantes buscando interagir com os moradores e levar para eles exemplos de como as mudanças climáticas impactam suas atividades. “Fizemos um evento dentro da Orla da União com um vídeo. Foi muito bom ver crianças, jovens e adultos se conscientizando do que acontece no mundo com relação às mudanças climáticas e relacionar isso às situações da vida diária deles, como o descarte inadequado de lixo, por exemplo”, afirma Rafaela.
Nessa experiência, os moradores puderam ser ouvidos – da dona de casa aos pescadores, verdureiros e os que vendem frutas e outros alimentos. “Com certeza, promovemos um grande impacto cultural nessa comunidade, permitindo que tivessem o conhecimento necessário para ver como mudar sua realidade”, finaliza.
A atuação prática foi favorecida pelo fato de que ao fim da formação, em outubro, cada coletivo recebeu apoio financeiro para compra de equipamentos, no valor de R$3 mil, e para a realização de ações práticas de conscientização em suas comunidades, com o apoio financeiro adicional de R$1,5 mil.
Além da formação e do apoio, a imersão em Manaus reuniu representantes de diferentes municípios, fomentando redes de colaboração, troca de experiências e articulação. Dessa forma, cada projeto ampliou seu impacto, estimulando a construção de soluções locais com foco na sustentabilidade, na justiça climática e na valorização das expressões artísticas periféricas.
“Ao investir na formação e no fortalecimento de coletivos culturais, o projeto reconhece o território como espaço de potência criativa e promove o protagonismo comunitário na luta ambiental. A metodologia é baseada em educação para a ação, colaboração em rede e sustentabilidade com autonomia, conectando cultura, juventude e meio ambiente”, explica Mel Angeoles, vice-presidente da AIHHUAM.



