Quando a Crise Climática Encontra a Devastação Ambiental
Impulsionado por chuvas torrenciais, o Ciclone Ditwah desencadeou deslizamentos de terra e inundações que já deixaram ao menos 410 mortos e 336 pessoas desaparecidas. Diante da dimensão da crise, o presidente Anura Kumara Dissanayake apelou à comunidade internacional por apoio urgente.
A água barrenta e espessa tomou arrozais, plantações e vilarejos, apagando do mapa as até então bucólicas colinas de chá, levadas pelas encostas que cederam. O Sri Lanka foi duramente golpeado pelas chuvas extremas do Ditwah na sexta-feira, 28 de novembro, em um cenário agravado pelo solo já encharcado após semanas de monções intensas.
Mais de 1.300 Mortos em Enchentes na Indonésia, Sri Lanka e Tailândia
Mais de 1.300 pessoas morreram e quase 900 seguem desaparecidas após uma sequência de enchentes e deslizamentos de terra varrer regiões inteiras da Indonésia, Sri Lanka, Tailândia e partes da Malásia. Dias de chuvas intensas de monção transformaram cidades, povoados rurais e florestas tropicais em paisagens de lama, troncos arrastados e casas destruídas.
O balanço humano é brutal:
- 744 mortos na Indonésia
- 410 no Sri Lanka
- 181 na Tailândia
- 3 na Malásia
E os números ainda são provisórios. Autoridades admitem que o total de vítimas deve crescer à medida que equipes de resgate conseguem acessar áreas isoladas.
Monções, deslizamentos e um alerta para o futuro
As chuvas de monção fazem parte do regime climático natural do Sul e Sudeste Asiático. O que mudou, porém, é a intensidade e a violência desses eventos. Com o aquecimento global, a atmosfera mais quente retém mais umidade, tornando as tempestades mais carregadas, rápidas e destrutivas.
Nas últimas semanas, regiões inteiras foram inundadas em poucas horas, deixando milhares de pessoas ilhadas em telhados, árvores ou pequenas ilhas de terra, à espera de resgate. Estradas desapareceram, pontes ruíram, redes de energia e água foram destruídas.
Mais do que “desastres naturais”, o que se vê é o encontro de três forças explosivas:
- Mudanças climáticas, que ampliam eventos extremos;
- Degradação ambiental, como desmatamento e ocupação desordenada;
- Desigualdade social, que empurra os mais pobres para as áreas de maior risco.
Batang Toru: da floresta viva ao cemitério de troncos
Na Indonésia, o epicentro da tragédia está em Sumatra, especialmente na região de Batang Toru, antes conhecida pela floresta exuberante e pela biodiversidade única. Agora, as imagens são de um cenário pós-guerra: rios de lama carregando milhões de metros cúbicos de madeira cortada, casas destruídas, estradas apagadas do mapa.
Autoridades locais já admitem o óbvio: o desmatamento e a exploração predatória contribuíram diretamente para amplificar o desastre.
Quando encostas são desmatadas, o solo perde sua capacidade de reter água. A chuva, em vez de infiltrar, escorre em massa, arrastando tudo pelo caminho. A floresta, que deveria funcionar como uma “esponja” que regula o fluxo de água, foi substituída por um mosaico de áreas degradadas, madeireiras e infraestrutura mal planejada.
Um ativista ambiental local resumiu a situação como uma “crise provocada pelo próprio homem”: sem restauração florestal e regras rígidas contra a exploração ilegal, enchentes como essa tendem a se tornar o novo normal.
As histórias por trás dos números
Por trás dos dados frios, há histórias individuais que traduzem a dimensão humana da catástrofe.
Na Indonésia, agricultores que corriam para lugares altos viram, em minutos, suas casas, plantações e famílias serem engolidas pela enxurrada de lama. Em vilarejos de Sumatra, moradores passaram a noite agarrados a árvores, sem saber quem ainda estava vivo quando o dia amanheceu.
No Sri Lanka, militares e equipes de resgate ainda procuram centenas de desaparecidos após a passagem do ciclone que agravou as chuvas de monção. Em comunidades rurais, há relatos de famílias inteiras soterradas e sobreviventes em choque, incapazes de imaginar como reconstruir suas vidas.
Na Tailândia, mais de 1,5 milhão de domicílios foram afetados. Ruas viraram canais marrons, prédios públicos viraram abrigos improvisados e o governo corre para restabelecer energia, água potável e acesso às áreas mais atingidas. Cozinhas comunitárias estão sendo montadas para garantir, pelo menos, uma refeição quente a quem perdeu tudo.
Até na Malásia, onde o número de mortos foi menor, milhares precisaram abandonar suas casas e buscar abrigo em centros de emergência.
Crise climática, injustiça e geopolítica
Mesmo no meio do caos, a política internacional se faz presente. Um avião militar com ajuda humanitária do Paquistão rumo ao Sri Lanka acabou preso em uma disputa diplomática com a Índia, por causa de autorizações de sobrevoo. Em outras palavras: enquanto famílias contam mortos e procuram desaparecidos na lama, países ainda discutem rotas aéreas e rivalidades históricas.
Essa dimensão geopolítica expõe uma contradição central do nosso tempo:
- As mudanças climáticas não respeitam fronteiras.
- Mas a resposta a elas ainda é fragmentada, nacionalista e, muitas vezes, paralisada por conflitos políticos.
Solidariedade, responsabilidade e futuro
Enquanto equipes de resgate ainda escavam a lama em busca de corpos e sobreviventes, cresce o debate sobre quem paga a conta de um clima em colapso. Países em desenvolvimento pedem, há anos, financiamento climático justo, transferência de tecnologia e mecanismos de compensação por perdas e danos.
Eventos extremos como este reforçam a urgência de transformar discursos em ação:
- ampliar fundos internacionais de apoio a desastres,
- condicionar investimentos à proteção ambiental real (e não apenas de fachada),
- responsabilizar cadeias econômicas que se beneficiam de desmatamento, mineração e obras sem planejamento.
Para o Eco21, esta tragédia é, ao mesmo tempo, um luto e um chamado.
Luto pelas vidas perdidas na Indonésia, Sri Lanka, Tailândia e Malásia.
Chamado para que governos, empresas e sociedade civil compreendam que não há mais fronteira entre “lá fora” e “aqui dentro” quando se fala em crise climática.
O que acontece nas monções asiáticas ecoa nas secas amazônicas, nas enchentes do Sul do Brasil, nos incêndios do Mediterrâneo e nos furacões do Caribe. É o mesmo sistema em desequilíbrio, cobrando uma conta cada vez mais alta.



