Rebecca Cesar | Jornalista do Greenpeace
Pelo menos 50 milhões de hectares de floresta – o equivalente a uma área quase do tamanho de Minas Gerais – terão sido destruídos no mundo para a produção de commodities entre 2010 e 2020, período no qual empresas se comprometeram a acabar com o desmatamento em suas cadeias produtivas. A estimativa faz parte do Relatório “Contagem Regressiva para a Extinção”, do Greenpeace internacional.
O lançamento do Relatório acontece no momento em que CEOs e executivos de marcas globais se encontram em Vancouver para a cúpula global do Consumer Goods Forum (CGF). Em 2010, os membros do CGF, que reúne as maiores marcas de consumo do mundo, como Nestlé, Mondelez e Unilever, prometeram acabar com o desmatamento até 2020 por meio do “fornecimento responsável” de gado, óleo de palma, soja e outras commodities. Com cerca de 200 dias pela frente e um iminente fracasso em cumprir o compromisso no prazo, a proteção florestal e a crise climática não estão sequer na pauta deles.
“Essas empresas estão destruindo o futuro ao levar o mundo a um colapso climático e ecológico. Elas desperdiçaram uma década sem medidas concretas e, nesse período, vastas áreas foram desmatadas. Elas deveriam estar em negociações para resolver a crise agora mas, em vez disso, ainda estão tentando aumentar a demanda por produtos que vão impulsionar a destruição das florestas ainda mais”, afirma Rômulo Batista, da Campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil.
Desde 2010, a produção e o consumo de commodities agrícolas ligadas ao desmatamento, como gado, soja, óleo de palma, borracha e cacau, vem aumentando radicalmente. Oitenta por cento do desmatamento global é resultado direto da produção agrícola. No Brasil, o Cerrado perdeu 2,8 milhões de hectares de florestas naturais e 1,8 milhão de hectares de pastagens naturais entre 2010 e 2017, com as principais ameaças provenientes das fazendas de soja e pecuária.
No início de 2019, o Greenpeace escreveu para mais de 50 empresas – entre elas Unilever, Mars, Nestlé e Burger King[1] – pedindo que apresentassem seu progresso para acabar com o desmatamento, divulgando seus fornecedores de commodities. Dos poucos que divulgaram a informação, todos os fornecedores ou produtores estavam envolvidos com desmatamento. Além disso, nenhuma empresa foi capaz de demonstrar um esforço significativo para cumprir o acordo. Todas as marcas que divulgaram fornecedores estavam comprando dos maiores negociadores de commodities do mundo, Bunge e Cargill, que adquirem soja de grandes produtores, acusados legalmente de grilagem de terras e de destruírem o Cerrado, a savana mais rica em biodiversidade do mundo.
“Enquanto a atenção global está voltada para a Amazônia, as indústrias de soja e gado vêm destruindo o Cerrado, acabando com a diversidade local, agravando a crise climática e cometendo atos de violência contra populações tradicionais que ocupam o território há séculos. Marcas globais devem ter controle sobre seus fornecedores”, completa Rômulo.
[1] Entre as empresas citadas, estão:
Empresas de bens de consumo, como Unilever, Mars, Nestlé, Mondelez, Procter & Gamble, Kellogg, Danone
Varejistas: Walmart, Tesco, Carrefour, Casino, Metro, Ahold Delhaize
Empresas de fast food: McDonald’s, marcas Yum! (KFC), Burger King, Subway
Produtores de carne: Tyson, Danepak, JBS, Marfrig, Danish Crown
Empresas de laticínios: Arla, Dairy Crest, FrieslandCampina
Comerciantes de commodities: Cargill, ADM, Bunge, Wilmar, Louis Dreyfus, Cofco