Samyra Crespo *| Ambientalista e colunista da Eco21 |
O Brasil é assinante da Convenção de Combate ao Tabagismo e quando eu atuava no Ministério do Meio Ambiente éramos orientados a não receber em nossos gabinetes representantes do lobby da indústria tabagista.
Como no caso das bebidas alcoólicas e armas, o lobby tabagista atua como sombra envergonhada, acenando com dinheiro e facilidades para os incautos ou corruptos de plantão.
O antitabagismo é uma luta antiga e quase inglória por muitos motivos: hábito cultural, moda, atitude autoafirmativa, transgressora – que tem lá o seu charme.
Até eu que nunca fui fumante achava charmoso os artistas fumarem no cinema ou na TV.
Quem nunca ficou fascinado com a piteira da Marlene Dietrich? E da Audrey Heppburn em “Bonequinha de Luxo?
E James Dean? O eterno jovem rebelde?
Também já defendi a posição de “fuma quem quer” até descobrir que a indústria mexe no princípio ativo dos cigarros para viciar, até ver todos os elementos cancerígenos existentes no cigarro convencional, e as estatísticas dos vitimados por câncer ou efisêma pulmonar.
Até experimentar a morte de um padrasto e amigos próximos.
Hoje sou absolutamente contra o hábito de fumar.
Também me recuso a fumar por “carona” – receber a fumaça dos fumantes.
Tenho uma amiga querida, Vera Lúcia Nascimento Poli que desenvolveu um poderoso método para as pessoas que desejam parar de fumar. Ela dirige um programa sem fins lucrativos e dá assistência online aos fumantes que desejam dar fim ao vício.
Segundo ela, o cigarro eletrônico – que está sendo cada vez mais adotado – é tão ou mais nocivo que o cigarro.
Cresce tremendamente o uso do cigarro eletrônico no meio jovem.
Nas políticas públicas, a contradição eterna: restringe-se o cigarro em ambientes compartilhados e fechados, mas é também uma poderosa fonte de arrecadação de impostos. O SUS tem estatísticas assustadoras sobre os gastos públicos (nosso dinheiro) com as doenças advindas do hábito de fumar.
No plano da saúde ambiental, as bitucas são um problema que ganha magnitude. Todos os que jogam a bituca no chão, pensam: como uma coisa tão pequena pode fazer mal?
Ocorre que são milhões de pessoas fazendo o mesmo. As bitucas – as pontas com filtro – não são degradáveis e há quem fume de 30 a 60 cigarros por dia. Além de emporcalharem o meio ambiente, são confundidas com comida por vários animais.
E as queimadas? Uma grande parte causada por bitucas acesas…
Em resumo, seja na saúde humana, seja no saneamento ambiental, o tabagismo é uma desgraça.
O fato positivo é que tem saída, tem cura, basta querer cair fora dessa fumaça maledetta.
* Samyra Crespo | Ambientalista, coordenou a série de pesquisas nacionais intitulada “O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável” (1992-2012). Foi uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira, 2002. Pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins/RJ. Ex-Gestora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro