MORTES E OS QUE INGRESSAM NA ETERNIDADE

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O cientista e ambientalista Thomas Lovejoy

Samyra Crespo*| Ambientalista e colunista da Eco21

Escrevo movida (e comovida) pela morte de três gigantes de nossa cultura, os três com autoridade ética, moral e intelectual: o pioneiro da ciência da biodiversidade contemporânea,  Edward O. Wilson; Thomas Lovejoy, cientista e ambientalista, conservacionista que amava o Brasil; e o bispo Desmond Tutu, incansável ativista dos direitos humanos e prêmio Nobel  da Paz de 1984.

A morte desses grandes homens além de nos deixar tristes e “órfãos ” aumentam imensamente a nossa responsabilidade.

Edward O. Wilson naturalista e ambientalista

Nós que ficamos, que ainda estamos por aqui, cabe a nós honrar seu legado, continuar o seu trabalho e conduzir a nobre tarefa de escolher a ciência, a ética e o amor à  humanidade, como nossos valores maiores.

É nossa a tarefa, como os mais velhos, os mais experientes, os mais vividos ajudar as novas gerações a “carregar o piano “. Um piano pesado, diga-se de passagem.

Bispo Desmond Tutu

Por isso, penso que a aposentadoria de um cargo executivo, ou de uma carreira numa determinada especialidade, não nos exime de continuar na luta por  um mundo mais justo,  guiado por um senso de respeito à  natureza e aos limites do Planeta  que habitamos.

Há  dois tipos de eternidade: a que os místicos e crentes intuem e cultivam por meio da fé.

E outra que habita nosso mundo, a eternidade do exemplo, do trabalho que perdura, que se torna “clássico “; a eternidade da galeria dos grandes.

O cientista e ambientalista Thomas Lovejoy

Neste dezembro de 2021, quando tantas mortes pela pandemia da Covid foram registradas, e tanta dor anônima expande um pesar coletivo, começo a mirar os retratos da minha galeria dos eternos. 

Com certeza absoluta, Tutu, Wilson e Lovejoy  lá  estão.

Seus ensinamentos ecoarão por muito tempo. Eles não só cumpriram um tempo por aqui,  mas desempenharam com galhardia uma missão.

Não sei se “descansam em paz”.  Tomara que sim.

Mas pensar que existiram, foram longevos e não desperdiçaram suas vidas, me traz um grande conforto, uma enorme esperança.

São homens assim que me fazem acreditar que somos capazes de criar um futuro diferente deste presente de dores e incertezas.

Mesmo mortos,  vivem.

Samyra Crespo

Samyra Crespo | Ambientalista, coordenou a série de pesquisas nacionais intitulada “O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável” (1992-2012). Foi uma das coordenadoras do Documento Temático Cidades Sustentáveis da Agenda 21 Brasileira, 2002. Pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins/RJ. Ex-Gestora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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