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UMA ENTREVISTA DIDÁTICA COM UM DOS ÚLTIMOS SERTANISTAS E INDIGENISTAS DO BRASIL 

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Nossa missão é semear informação ambiental de qualidade.

Samyra Crespo | Ambientalista. Ex-Presidenta do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Ontem, segunda, assisti o programa Roda Viva, na TV Cultura de São Paulo e tive o prazer de ouvir Sidney Possuelo, um dos últimos sertanistas e indigenistas da lavra dos irmãos Rondon ainda vivo. 

ex-presidente da FUNAI, indigenista e ativista social Sydney Possuelo.

82 anos, larga experiência, resumo da sua ótima entrevista: 

– Na época de Collor, foram expulsos cerca de 40 mil invasores das terras dos Yanomami e a reserva foi demarcada. Mesmo num governo liberal de direita, foi possível porque houve vontade política; 

– Hoje em dia também seria possível, pois o Estado brasileiro possui os meios e as instituições, e a Lei para fazê-lo; 

– Se a Amazônia está aceleradamente caindo na mão do crime organizado e dos negócios ilícitos, isso se deve à ausência do Estado e a anunciada decisão política de Bolsonaro de que não iria demarcar nenhuma terra indígena; 

– Esse anúncio, feito ainda na candidatura do atual Presidente, vem funcionado como uma “licença ” para a invasão, extração ilegal de recursos, território livre para o contrabando de drogas e armas, e perseguição às aldeias ribeirinhas e indígenas; 

– O Vale do Javari é o último reduto dos povos indígenas isolados (sem contato com os brancos). Vivem em agrupamentos entre 40 e 50 pessoas e não “conhecem fronteiras”: por isso trafegam livremente nas matas entre Brasil-Peru, e Brasil-Colômbia; 

– O próprio Possuelo contou a experiência pessoal de ter contatado pelos menos seis grupos de isolados; considera a experiência desastrosa para os índios; especialmente porque – de imediato não resistem à carga viral que carregamos e transmitimos para eles: morrem que nem moscas: 

– O contato é sempre desvantajoso para os grupos isolados; a solução é manter bases de apoio e monitoramento da FUNAI e deixar que os contatos sejam espontâneos; 

Se uma barreira deve ser erguida, tem que ser para nós, com a determinada proibição de invadir o território deles; 

– Possuelo conheceu Bruno Pereira e falou com emoção de sua já anunciada como possível, morte; o indigenista era, com amplo reconhecimento, um bom profissional e servidor público que se viu obrigado a tirar uma licença – sem remuneração – para não compactuar com o desmonte da FUNAI; 

– Se não fosse a presença do jornalista Dom Philips no triste evento, a morte de Bruno ocuparia uma linha nos jornais, como vem ocorrendo há anos, quando outras mortes são investigadas superficialmente, só para cumprir os ritos legais; 

– A impunidade na Amazônia é a regra, e os bandidos sabem disso. As autoridades locais, quase sempre são coniventes com os esquemas ilegais; 

– Possuelo também mencionou que devolveu sua medalha Rondon, recebida por 35 anos de serviços, pois a viu degradada e desviada de seus propósitos, quando Bolsonaro foi agraciado com ela; 

– Por fim, e com base na sua citada experiência na demarcação das terras dos Yanomami, ele deu a sentença política necessária: somente com a mudança de visão do Estado e de seu executor o Governo, será viável salvar o que resta da Amazônia e cumprir o dever constitucional de proteger os índios.  

Sem trocar de Presidente e sem diminuir o poder de quem o apoia, tragédias assim vão se repetir. 

O recado foi dado, a experiência passada. 

O crime grita na nossa cara. 

Bruno e Dom sacrificados. 

Alguém ainda tem dúvida em quem votar? 

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