Samyra Crespo | Ambientalista. Ex-Presidenta do Jardim Botânico do Rio de Janeiro
EX-MINISTROS DO MEIO AMBIENTE AFIRMAM UNÍSSONO EM DEBATE SUPRA PARTIDÁRIO: “MEIO AMBIENTE É SOLUÇÃO E NÃO UM PROBLEMA”
Ontem ocorreu uma iniciativa digna de nota, no que se considerou uma “Abertura da Semana do Meio Ambiente”. Dez fundações partidárias – cobrindo um amplo espectro político – patrocinaram um debate on-line com os ex ministros brasileiros da área. Estavam lá, por ordem cronológica de atuação: Rubem Ricúpero, José Sarney Filho, José Carlos Carvalho, Marina Silva, Carlos Minc, Izabella Teixeira, Edson Duarte. Faltou Krause, e Dr. Henrique Brandão Cavalcanti faleceu. De Collor a Temer, todos o que ocuparam a pasta ajudaram a construir e fortalecer o sistema nacional de proteção do meio ambiente.
Além do debate em si, onde cada ministro foi orador, anuciou-se que o Fórum de Ex Ministros, criado informalmente em 2012 (perto da Rio + 20), será uma configuração política suprapartidária, com a qual podemos contar. Temos assim uma voz unida, uma coalizão de alto nível, que tem se levantado – e continuará se levantando – para denunciar o desmantelamento do arcabouço institucional pelo atual Governo Bolsonaro. É uma turma de pesos pesados, e um alento poder ver tal coalizão lutando conosco – ambientalistas – para combater o mais extenso e profundo retrocesso a que assistimos na área ambiental, desde que o País se redemocratizou, sob a égide da Constituição de 1988.
O conteúdo das exposições individuais dos ex-ministros está disponível na internet, e pode ser visto por qualquer um. Vi pelo canal do YouTube do Instituto Astrojildo Pereira, em tempo real.
Coloco a seguir alguns pontos altos da fala dos ex-ministros, que valem a pena ficar para nossa reflexão – e para o planejamento de futuras ações.
Carlos Minc sublinhou a necessidade de tornar a agenda ambiental uma pauta relacionada à vida cotidiana dos cidadãos comuns; deixar claro para cada um o que tem a ver o desmatamento com o estresse hídrico, com o encarecimento das tarifas de energia, com o quase certo racionamento de água nas cidades do sudeste e centroeste nos próximos meses.
Marina Silva se ausentou logo após as colocações de seus colegas, mas enfatizou a necessidade de se mobilizar os jovens e mostrar como o futuro deles está em jogo. Incentivar movimentos tipo Friday for Future da adolescente sueca Greta. Lembrou também que para falar com os cidadãos é precio mostrar que a bioeconomia gera emprego e renda: “a cadeia produtiva do Açaí na Amazônia cria mais emprego que a Vale, indústria de minério. O açaí gera 300 mil empregos contra 20 mil da Vale”, disse citando o cientista Carlos Nobre.
Sarney Filho lembrou que – se o Governo Federal parece impermeável ao bom senso – não se deve perder tempo em tentar remover o Ministro Salles, pois seu substituto poderá ser pior. Acha que há uma enorme oportunidade de se fortalecer a agenda ambiental nos governos subnacionais, estados e prefeituras.Também mencinou a importância de trabalhar no Congresso se não por vitórias, pelo menos para impedir as pautas bombas no meio ambiente: “em alguns momentos, impedir já é ganhar.”
Izabella Teixeira lembrou a força do Fórum de ex-ministros junto ao empresariado progressista e a alavancagem de mais aliados neste setor, bem como no financeiro: “eles percebem claramente que esse imenso ativo brasileiro, nossas vantagens competitivas – que é ser uma potência hídrica e biodiversa vai se degradar”.
José Carlos centrou sua fala no desastre que será a flexibilização do licenciamento e da necessidade de se fortalecer a avaliação estratégica e o planejamento nos estados. Também mencionou a participação da sociedade civil, lembrando que o CONAMA, conselho nacional, duramente atingido neste momento, foi criado em 1981: “nem a Ditadura ousou apequenar o CONAMA”.
A fala que mais me chamou a atenção foi a do ex ministro Rubem Ricúpero, pois enfatizou a urgência de revermos as nossas estratégias que, segundo ele, estão sendo pouco eficientes para deter este tsunami quem tem sido a gestão ambiental – com pouco mais de dois anos de Bolsonaro/Salles: “que faz o que disse que ia fazer durante a campanha”, de acordo com Marina Silva.
Além de recorrer ao Judiciário e de fazer denúncias, ou manifestações públicas, é hora de rever o que funciona e o que não funciona em nosso modo de agir, conquistar aliados para virar o jogo. Ricúpero fez um apelo às Fundações apoiadoras do debate que buscassem ampliar o espectro político ainda mais, num ensaio progressivo de “frente ampla”, fortalecendo o aspecto supra partidário da luta em prol da conservação dos nossos ativos ambientais. Sugeriu que uma plataforma ambiental fosse apresentada e assumida pelos partidos que vão apresentar candidatos à presidência da República no próximo ano. Lamentou que as manifestações contra Bolsonaro no último sábado não tivessem nos seus gritos de ordem nada a respeito dos crimes ambientais denuciados pela imprensa e ativistas.
Enfim, o debate, o qual aqui reproduzi em rápidas pinceladas merece ser visto e retomado. Mostrou todo um potencial de alianças, ações, e sobretudo de compromisso político claro e inequívoco com um futuro onde a conservação ambiental é um ativo e não um problema. Uma vantagem e não um obstáculo ao nosso tão desejado desenvolvimento. Meio Ambiente é solução, foi a tônica do encontro, ontem.
Animador ver gente sensata, experiente e com este calibre dissertar e arregaçar as mangas pelo País.
A estatura deles apequena ainda mais a presença de alguém como Salles à frente do Ministério do Meio Ambiente do Brasil.
Aplaudo de pé nossos ex-ministros.