Documento foi elaborado na 17ª Conferência Geral da TWAS no Rio de Janeiro
A Academia Mundial de Ciências para o Avanço da Ciência nos Países em Desenvolvimento (TWAS) divulgou, nesta segunda-feira (6), a declaração de sua 32ª reunião geral, realizada no Rio de Janeiro dentro da 17ª Conferência Geral da entidade. No texto, os países membros reforçam o apoio à independência da ciência, ao combate à desinformação e à defesa das instituições científicas. Organizada pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a TWAS, a conferência foi realizada entre 29 de setembro e 2 de outubro e reuniu mais de 300 cientistas e autoridades de diferentes países.
Proposta pela presidente da TWAS, Quarraisha Abdool Karim, a declaração reafirma o compromisso da comunidade científica internacional com a independência da ciência e o combate à desinformação, condenando interferências políticas, ataques a instituições científicas e o uso da fome e da guerra contra civis. O documento também defende políticas públicas baseadas em evidências, o fortalecimento das academias de ciências e o apoio a pesquisadores em risco, especialmente no Sul Global.
A 17ª Conferência Geral da TWAS teve como objetivo discutir a cooperação científica e caminhos para enfrentar desafios globais, como inteligência artificial, mudanças climáticas e segurança alimentar. O evento no Rio de Janeiro marcou a primeira edição presencial desde a pandemia e celebrou os 40 anos da TWAS. Fundada em 1983 e oficialmente inaugurada em 1985, a academia apoia a prosperidade sustentável por meio da pesquisa, da educação, de políticas públicas e da diplomacia científica.
Durante a abertura do evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou um vídeo em que ressaltou que “a ciência é indispensável não apenas para o progresso econômico, mas também à dignidade humana, democracia e sustentabilidade do planeta”.
“Vivemos um momento de grandes desafios. O multilateralismo e a cooperação internacional estão ameaçados. Nosso futuro comum está em risco por causa de respostas unilaterais, de retrocessos ambientais, da desigualdade crescente, da desinformação e do negacionismo científico. Não há como ignorar essa realidade. Nenhum país, por maior que seja, pode enfrentar sozinho problemas que não respeitam fronteiras, como a fome, as pandemias e as mudanças climáticas”, disse. “É por isso que encontros como este têm tanto valor. Aqui estão reunidos o conhecimento, a criatividade e a dedicação de cientistas do mundo inteiro”.
Leia a íntegra da declaração:
DECLARAÇÃO DO RIO DA TWAS
30 de setembro de 2025
Nós, Membros da The World Academy of Sciences for the advancement of science in developing countries (TWAS), reunidos na 32ª Reunião Geral da TWAS, realizada em conjunto com a 17ª Conferência Geral da TWAS, no Rio de Janeiro, Brasil, manifestamos nosso apoio à seguinte declaração:
Considerando:
- O crescimento global da desinformação e da disseminação de informações falsas, que minam a ciência e a busca pela verdade;
- O perigoso enfraquecimento do consenso científico global baseado em evidências sobre grandes questões que afetam o futuro do mundo, como mudanças climáticas e segurança vacinal;
- A substituição da competência científica por ideologia e lealdade política na nomeação de dirigentes de instituições científicas estatais;
- Os ataques políticos às instituições científicas, como universidades, institutos de pesquisa e organizações não governamentais que promovem e realizam ciência;
- O desafio contínuo da desigualdade global na ciência, que perpetua a fuga de cérebros e enfraquece a ciência no Sul Global;
- A crescente complexidade das políticas internacionais, que tensiona a colaboração científica Norte–Sul e as restrições de vistos, dificultando que estudantes e pesquisadores estudem e realizem pesquisas no exterior, comprometendo a troca global de conhecimento; e
- A redução de financiamentos para parcerias internacionais de pesquisa em áreas-chave como saúde, agricultura e educação, o que prejudica o avanço em desafios globais compartilhados.
E considerando ainda:
- Os ataques às instituições multilaterais, especialmente aquelas que promovem ciência, direitos humanos e equidade;
- As dificuldades enfrentadas pelas academias de ciências, instituições que têm desempenhado papel fundamental na construção da ciência globalmente;
- Os conflitos armados que destroem escolas, hospitais e universidades e impõem fome a civis, incluindo cientistas;
- O alvo sistemático de cientistas, jornalistas e civis em guerras e conflitos geopolíticos ao redor do mundo;
Reafirmamos:
- Nosso apoio inabalável ao método científico como caminho para a busca da verdade;
- Nossa posição pela independência da ciência e dos cientistas, que não devem ser subjugados a ideologias políticas; e
- Nossa convicção de que a ciência desempenha papel essencial no desenvolvimento econômico, na prosperidade, na equidade e na sustentabilidade.
Condenamos:
- Os ataques e a destruição de instituições acadêmicas e científicas em zonas de conflito, que deixam um legado duradouro de perdas e retrocessos;
- O uso da fome de populações, incluindo cientistas, como arma de guerra;
- O uso abusivo da ciência para vigilância e perseguição de civis e jornalistas em contextos de conflito; e
- A interferência política nas instituições científicas.
Comprometemo-nos a promover:
- A consciência pública sobre a importância da ciência e seu papel central na busca pela verdade;
- O uso das evidências científicas para combater a desinformação e a manipulação de fatos;
- A independência política das instituições científicas;
- O fortalecimento das academias de ciências como espaços de intercâmbio científico e vozes coletivas dos cientistas;
- O desenvolvimento e formação da próxima geração de cientistas, com ênfase na cooperação Sul–Sul e na ampliação dos programas de bolsas da TWAS para pós-graduação e pesquisa;
- O apoio a cientistas refugiados, deslocados e em risco, mediante o compartilhamento de laboratórios e recursos e a criação de oportunidades de carreira na comunidade científica global;
- A formulação de políticas públicas baseadas em evidências científicas, especialmente quando os governos solicitarem assessoramento técnico;
- O papel essencial das instituições multilaterais na promoção e no apoio à ciência global;
- O papel estratégico da educação dos jovens e da inclusão digital na promoção da colaboração entre o Sul e o Norte globais; e
- O papel central da ciência e da comunidade científica na promoção da paz e do entendimento mútuo entre povos, independentemente de classe, crença, idioma ou nacionalidade.
Proponente: Professora Quarraisha Abdool Karim
Apoiadores: Membros da TWAS presentes na 32ª Reunião Geral da TWAS