por Matheus Carneiro e Pedro Oliveira
Imagine o seguinte cenário: após seu negócio se tornar sustentável, uma notícia é publicada apontando a empresa como responsável por mascarar os reais impactos ambientais da atividade empresarial. Aqui, o estrago reputacional está feito. Mesmo sem culpa, contra fatos não há argumentos e, nesse caso, para recuperar a reputação perdida será necessário um esforço ainda maior do que aquele aplicado para a construção de uma imagem positiva da empresa. E, para evitar que esse cenário nunca saia do campo hipotético e se concretize, é importante entender o que é greenwashing e como evitá-lo.
Com a popularização de práticas de Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG), aumentou o número de empresas que decidiram adequar seus processos para torná-los sustentáveis ambientalmente. Contudo, como toda adesão em massa, foram criados dois grupos distintos: os que acreditam no real benefício da medida e os que esperam simplesmente colherem os frutos do retorno midiático gerado pela suposta adoção.
Para esse segundo grupo foi designado o termo Greenwashing, que pode ser traduzido como “lavagem verde” e faz analogia à “lavagem cerebral” ou brainwashing. Uma empresa comete Greenwashing quando ela omite ou mente sobre os impactos ambientais de seus produtos, utilizando ferramentas de marketing para promover uma imagem ambientalmente sustentável, enquanto, na realidade, não aplica os princípios da prática em sua atividade.
Tal ação provocará um dano de grau duplo: ambiental, em primeiro lugar, e, em segundo, reputacional, considerando que, a partir do momento em que uma empresa é taxada com este termo, os clientes podem suspeitar sobre as demais informações prestadas, especialmente envolvendo a qualidade do produto e a ética.
E, para aquelas empresas que optam por não camuflarem seus dados ambientais e seguem caminhos verdadeiramente sustentáveis, o Greenwashing pode ser um problema reputacional quase irreparável, uma vez que, nesse caso, a irresponsabilidade ambiental pode ocorrer por parte de terceiros relacionados, como, por exemplo, os fornecedores. Porém, existem duas formas de mitigar esse risco: uma política ESG bem estruturada e uma Due Diligence de fornecedores.
Em relação à política ESG, devemos considerar que a falta de prioridades e estratégias no projeto do ESG, aliado a iniciativas desarticuladas e com ausência prática dos fundamentos, podem levar uma empresa ao “falso ESG”. Para que isso não ocorra, o primeiro passo é a elaboração de uma política adequada ao cotidiano específico da empresa, mapeando os riscos, incluindo a interação com terceiros essenciais à atividade empresarial.
Já o Due Diligence nada mais é do que um processo estruturado de estudo, auditoria, investigação e avaliação de riscos e oportunidades em operações empresariais . Sem ele, a estruturação do ESG nas empresas pode ser comprometida. Isso porque organizações ou profissionais autônomos podem se passar por especialistas, quando na realidade não possuem nenhuma experiência na área, ou até mesmo escondem um terrível histórico profissional.
Neste mesmo sentido, realizar diligências em busca de informações sobre os parceiros comerciais é mais do que essencial nesse processo. A busca sobre o histórico de negociações das empresas com quem se deseja realizar negócios e seus respectivos sócios, combinado com a análise processual e midiática de ambos, tem como objetivo especialmente mitigar os riscos legais e reputacionais destas operações.
A efetividade ambiental, social e de governança nas empresas dependerá do nível de comprometimento da alta direção em incluir esses três pilares em sua cultura no dia a dia, estruturando processos, avaliando riscos dos fornecedores, terceiros e todos os outros stakeholders, bem como verificando o nível de comprometimento destes com as boas práticas de ESG.
*Matheus Carneiro e Pedro Oliveira são analistas de Diligências da Aliant, plataforma de soluções digitais para Governança, Riscos, Compliance, Cibersegurança, Privacidade e ESG.