Na pecuária brasileira atual, a criação de abelhas e produção de mel tem enorme potencial subutilizado
O mel produzido no Brasil é um dos mais conceituados internacionalmente, entretanto, o país não configura sequer os dez maiores produtores mundiais. Para celebrar o Dia do Mel, comemorado hoje (21), e marcar os 10 anos de existência, a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.) elenca quais são os desafios e as oportunidades que o Brasil apresenta para o desenvolvimento da apicultura.
Segundo Ana Assad, diretora da A.B.E.L.H.A., apesar da baixa posição no ranking global de produtores, o Brasil tem condições naturais que facilitam a produção de mel. “Temos um clima favorável e um abundante pasto apícola [flores que fornecem néctar, matéria-prima do mel], mas precisamos avançar em várias áreas para alcançar nosso verdadeiro potencial.”
Um dos primeiros desafios a serem enfrentados é a visão dos apicultores quanto a sua própria produção. Segundo a Associação, a maior parte deles enxergam a apicultura como uma fonte de renda, deixando de explorar o total potencial de seus produtos e seus derivados potenciais, como méis especiais, cremes, geleias, bebidas e cosméticos que têm o mel como ingrediente. Outra coisa que urge atenção é a necessidade de formalizar o setor. “Os apicultores devem cadastrar suas colmeias nos órgãos de defesa agropecuária estaduais, para que o poder público tenha melhor capacidade de planejamento e formulação de políticas públicas e controle de pragas e doenças”, explica Ana.
Ela também faz menção à ameaça das mudanças climáticas ao setor. “As alterações climáticas podem afetar a floração das plantas, a disponibilidade de néctar e pólen, e impactar diretamente as abelhas”, explica Assad.
Outro fator necessário é o combate da presença de produtos adulterados ou de baixa qualidade. Segundo Ana, o uso de defensivos agrícolas deve ser feito com cautela para que não agrida nem abelhas nem matas nativas. Ela também sublinha a subutilização da polinização agrícola assistida: “A cooperação entre apicultores e agricultores pode impulsionar a produtividade e a renda de ambos. É um ganha-ganha.”
Fomentar o consumo doméstico também é necessário. Atualmente, o Brasil consome ao ano 60 gramas per capita, ficando muito abaixo das 260 gramas consumido mundialmente. Para Daniel Cavalcante, CEO da Baldoni, empresa de produção e distribuição de produtos apícolas, preço justo e canais de vendas eficazes são essenciais para crescer esse consumo. “Embora não haja estimativas oficiais, sabemos que podemos aumentar significativamente esse consumo.”
Daniel também enfatiza a demanda de melhoria da capacidade produtiva do mel brasileiro. “O Brasil precisa investir em melhores práticas de manejo apícola, formalização da profissão, regulamentação e melhoria da legislação, além de políticas de incentivo para aumentar a nossa produtividade, que é inferior à de países como Argentina e Nova Zelândia”, afirma Daniel. Além disso, destaca que o investimento em treinamento técnico especializado e maior dedicação aos apiários é essencial para a adoção de boas práticas e obtenção de melhores resultados.