Rudá Capriles | Editor Eco21
Baseado no artigo de Eva Rodriguez | Jornalista especializada em ciências naturais
O arquipélago das Canárias foi abalado por erupções vulcânicas por inúmeras vezes, mas apenas 14 delas foram registradas na história
Embora o fato que o vulcão atual foi previsto e teoricamente deva seguir o mesmo desenvolvimento dos eventos anteriores, agora existem novas tecnologias que aperfeiçoaram muito a previsão
Embora haja atividade vulcânica há dezenas de milhões de anos nas Ilhas Canárias, os registros são relativamente recentes.
Nos últimos 500 anos, os cientistas sabem a existência de pelo menos 14 erupções históricas, sendo elas distribuídas entre as três ilhas do arquipélogo das Canárias: sete em La Palma , cinco em Tenerife e duas em Lanzarote (incluindo o vulcão de Cumbre Vieja).
Nesse momento, os vulcanólogos, geólogos, sismólogos e especialistas no estudo de vulcões são cruciais ao predeterminar o comportamento desses fenômenos naturais e saber agir com propriedade diante da catástrofes e suas consequências devastadoras.
“É preciso levar em consideração a falta comunicação diante de um evento recente. Na maior parte do tempo não havia nenhum jornalista, o repórter do exterior vinha e recolhia informações que nem sempre eram precisas. Existem inúmeras manchetes sobre o mesmo fato, mas o tempo muda os fatos”, diz Juan Carlos Carracedo Gómez, vulcanólogo aposentado da Universidad de Las Palmas e professor do Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC), nas Canárias.
Carracedo, estuda vulcões faz sessenta anos e conviveu com muitos abalos sísmicos, incluindo a explosão de Teneguía em 1971 no arquipélago.
Ele dedicou-se aos perigos dos vulcões e como antecipá-los. Sua dedicação e estudo o fez prever em 2013 a erupção no vulcão de Cumbre Vieja em La Palma, local que atualmente a lava corre devastando tudo em seu caminho.
Como saber como, quando e onde serão as erupções
Um conceito fundamental da geologia é que os processos que ocorrem agora seguem os mesmos padrões do passado, e dessa maneira é possível prever o futuro.
“É a teoria do uniforme, antagônica ao “dilúvio universal” catastrófico. Os geólogos recriam (na medida do possível) o que ocorreu no passado para assim poder deduzir o que pode acontecer agora e no futuro”, pontua Carracedo.
Por exemplo, a área vulcânica mais ativa historicamente das Ilhas Canárias é a de Cumbre Vieja. Medições indicam que a região concentrava mais de 50% de todas as atividades vulcânicas da região. “Seguindo o raciocínio anterior, era de se esperar que ali se localizasse uma nova erupção, como já aconteceu no passado”, enfatiza o vulcanólogo.
Além disso, essa premissa permite ao geólogo definir com mais precisão o local e também o tipo de evento que deverá ocorrer. “Como todas as atividades do Cumbre Vieja são do tipo basálticas e fissurais, freqüentemente com várias bocas eruptivas, este era o tipo mais provável de se esperar, exatamente como ocorreu em Teneguía no passado”. Importante também relembrar da semelhança com o evento de Garachico em Tenerife, a de maior impacto social da história do arquipélago, ocorrida entre 5 de maio e 13 de junho de 1706.
“Os cenários eruptivos mais relevantes das Ilhas Canárias se desenrolaram de erupções basálticas e fissurais, ou seja, com comportamento efusivo e localizadas em setores de fendas vulcânicas com baixas taxas de erupção. Cerca de 80% do registro sismológico produzido nas Ilhas Canárias está localizado dentro dessas formações e em 60% dos casos os fluxos de lava estão localizados em ambientes costeiros densamente povoados, fato que aumenta o risco vulcânico das ilhas ”, aponta um estudo conduzido em 2015 por Carmen Romero Ruiz, professora da Universidade de La Laguna.
Cristóvam Colombo registrou em seu diário de bordo a explosão nas Ilhas Canárias
Pela perspectiva da ciência, quando vulcões antigos ficaram ativos, não faltou somente a tecnologia moderna para coletar de dados, também eram escassos os manuscritos e registros na época.
A erupção do Timanfaya em Lanzarote no ano de 1730, foi a mais longa entre as registradas, teve como única fonte o famoso diário de Andrés Lorenzo Curbelo, pároco de Yaiza, povoado próximo ao local da erupção.
Outro caso é a história de Cristóvão Colombo passando pelas ilhas. Em sua viagem de descoberta da América, ele parou em La Gomera. De lá regressou até Gran Canaria aonde aportou com a missão de reparar uma de suas caravelas e lá registou em seu diário de bordo: “…houve um grande incêndio na Sierra de Tenerife, […] semelhante aos vulcões que tinha visto na Sicília e outros lugares”.
Diversos estudos relacionaram o registro de Colombo com a erupção mais recente do Monte Teide, no qual correspondem às lavas negras originando-se da zona do cone sumital.
“Em um estudo geológico da região noroeste de Tenerife, foi datado por radiocarbono um pequeno vulcão localizado perto de Chinyero, sendo até então a última erupção desta ilha. Este jovem vulcão, chamado de Coca Cangrejo, teve a idade de origem constatada por volta do ano de 1492, ano da aventura de Colombo” conta Carracedo.
A origem das ilhas
Em 2020, Carracedo publicou que dentro do grupo das Ilhas Canárias os arquipélagos da Macaronésia (Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde), apesar da origem em comum, o desenvolvimento geodinâmico desses ambientes os diferiram.
Os geólogos utilizaram vários modelos na discussão sobre a origem das Canárias, sendo dois os mais aceitos : o primeiro modelo associava a uma fratura, prolongamento da falha africana do Atlas. O segundo relaciona seu magmatismo a um hotspot no manto terrestre que induz a formação de um magma mais leve que o ambiente e que sobe à superfície formando ilhas. “Um estudo recente que incluiu estes quatro arquipélagos da Macaronésia enfatiza a origem destes arquipélagos oceânicos a um hotspot”, finaliza .
FONTES:
https://www.ecoticias.com/naturaleza/211731/14-erupciones-historicas-despues