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PRAGAS, PARCEIROS OU HERÓIS DA BIODIVERSIDADE?

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Nossa missão é semear informação ambiental de qualidade.

Samyra Crespo | Ambientalista. Ex-Presidenta do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Comprei e li – numa sentada de avião, durante uma viagem curta –  um livro interessantíssimo da bióloga, pesquisadora e divulgadora de ciência Anne Sverdrup-Thygeson. O livro da cientista norueguesa está à venda e traduzido no Brasil com o título  “Planeta dos Insetos” e acrescenta um subtítulo para incentivar: “estranhos, úteis, fascinantes”. Entrega com competência tudo o que um bom livro de divulgação científica se propõe: informar, ensinar e por que não? Divertir. Estimular nossa consciência e pregar mais uma tabuletinha em nosso arquivo cognitivo e emotivo.

A aventura do conhecimento empolga. Faz vibrar a nossa curiosidade, liga lé com cré, faz sinapses incríveis.

Muito oportuno. A imprensa vem noticiando,  há algum tempo, notícias sobre baixas preocupantes nas populações de insetos e pássaros, e quebras consideráveis de cadeias alimentares que são suporte da biodiversidade animal e vegetal. São fenômenos interligados: menos insetos, menos pássaros. Menos pássaros, colapso na polinização. Colapso na polinização, menos comida. Comida escassa, mais fome e preços altos. Cortou, copiou e colou?

Vamos lá.

Fala-se em verdadeiro Armageddon dos insetos,  termo para nomear o apocalipse bíblico. Morte massiva, destruição radical.

Abelhas, besouros, borboletas, vespas e outros milhares de grupos estariam desaparecendo, a vida erodindo, tijolo por tijolo, criatura por criatura, DNAs desaparecendo, bem diante de nossos olhos.

Causas? Desmatamento, conversão dos solos em agricultura intensiva em agrotóxicos ou cidades. Sim, aqueles inseticidas na horta, no jardim, para matar mutucas, moscas e baratinhas. Milhões de frascos nas prateleiras de milhões de mercados, bilhões  de borrifadas fatais.

E para coroar, o aquecimento global.

Muitos ovos de insetos só eclodem em condições de umidade e temperatura específicas.  Há forma larvais cíclicas que permanecem na terra por anos, como as cigarras canoras norte-americanas que levam 17, exatos 17 anos para “brotarem” da terra e se tornar adultas.

Sabemos que as abelhas, cuja mortandade ocorre inclusive no Brasil,  são polinizadoras exclusivas de mais de 70% dos cultivares de alimento.

Além de polinizar,  os insetos servem como alimentos para animais e humanos (na Ásia fazem parte da dieta de milhões de pessoas), servem como ração para pássaros e peixes, despoluem o ambiente (ao decompor matéria orgânica morta) e estão cada vez mais presentes em fármacos e antibióticos.

E as baratas e mosquitos da dengue ou febre amarela? As chamadas “pragas” e parasitas?

A notícia ruim é  que nos especializamos em matar os insetos úteis, parceiros,  e estamos deixando resistentes e sem predadores os insetos que nos prejudicam. Assustador, não?

Os insetos estão na Terra há 470 milhões de anos, nós apenas há 200 mil. A evolução encontrou para eles soluções bem engenhosas, não acha? Muitas delas nem conhecemos.

Fritjof Capra, um dos mais afamados físicos e divulgadores de ciência contemporâneo, se tornou ambientalista militante e criou uma teoria interessante sobre como adquirir consciência ecológica. Esta teoria pode ser nomeada, a grosso modo, de “Alfabetização Ecológica”.

Somos analfabetos científicos e analfabetos ecológicos. Nós leigos não conhecemos o ciclo do carbono, do hidrológico ou o dos nutrientes no solo. Daí a dificuldade de entender o aquecimento global.

Não está no nosso imaginário como os maravilhosos fluxos de inteligência e informação ocorrem diante dos nossos olhos e em nossos próprios corpos.

Somos cegos soltos na selva. Estamos em casulos mentais. Racionalistas mancos. Materialistas que nem sequer conhecemos a composição e as qualidades da matéria.

Para “alfabetizar” com eficiência na compreensão da “teia da vida” ele fundou um instituto no Novo México que se especializou em investigar técnicas cognitivas para educadores. Ciência, imaginação poética e ecologia. Mudanças curriculares também são necessárias.

Alfabetizar ecologicamente a humanidade. Educar para a visão holística com base em ciência.  Ciências da Terra, ciências da vida.

Como mostra a bióloga do livro mencionado (que recomendo fortemente) os insetos têm funções ecológicas estratégicas e, desaparecidos, afetarão dramaticamente o Planeta e até o mapa de doenças que conhecemos. Podem ainda, adotar estratégias agressivas de sobrevivência.

Assim como nós – que buscamos a adaptação e a resiliência, eles também sentirão o perigo da espécie se extinguir. E vão reagir.

Reações que ainda não conhecemos e sequer ousamos imaginar.

A vida tem magia e mistérios. Muitas vezes ela tece em silêncio um manto de luz ou uma colcha de sombras.

Para zombar de nós, ou nos alertar, Anne diz que as aranhas (que não são insetos) existem em tal quantidade e têm tal apetite que poderiam comer todos nós, todos mesmo, ao longo de um único ano.

São carnívoras e vorazes.

Para nossa sorte, preferem os insetos.

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