31 C
Rio de Janeiro
spot_imgspot_imgspot_imgspot_img
spot_img

Infraestrutura Verde-Cinza na Amazônia Costeira inaugura nova fronteira de adaptação climática e financiamento no Brasil

Mais lidas

eco21
eco21https://eco21.eco.br
Lúcia Chayb Diretora eco21.eco.br @eco21_oficial @luciachayb luciachayb@gmail.comPor trinta anos foi a jornalista responsável pela revista ECO21 (1990/2020)

A Rodovia PA-458, que conecta Bragança e Ajuruteua, no Pará, está prestes a deixar de ser um símbolo do passado da engenharia cinza para se tornar o primeiro grande laboratório brasileiro de Infraestrutura Verde-Cinza (IVC) em escala real.  Construída entre as décadas de 1970 e 1980, sob um paradigma de infraestrutura que ignorava a dinâmica ecológica dos manguezais, a estrada bloqueou fluxos naturais de maré, degradou extensas áreas de mangue e intensificou alagamentos que afetam hoje milhares de famílias. Mas a requalificação proposta pela Conservação Internacional (CI-Brasil) e parceiros e que será lançada em 17/11 na COP30 inaugura uma virada histórica: pela primeira vez na Amazônia costeira, uma rodovia será reprojetada para operar em parceria com a natureza e não contra ela.

A proposta é de um modelo inovador que une engenharia, ciência climática e Soluções Baseadas na Natureza para transformar risco em resiliência, vulnerabilidade em competitividade regional e heranças do passado em ativos econômicos e climáticos. O estudo técnico que está sendo lançado na COP30 revela um potencial raro: a restauração ecológica associada às intervenções de IVC ao longo de 8 km da PA-458 permitirá recuperar 363,28 hectares de manguezais, restaurar a circulação natural das marés e remover mais de 106 mil tCO₂eq até 2050 apenas na área diretamente afetada. Considerando as zonas adjacentes degradadas por turismo desordenado, queimadas e ocupação urbana, o potencial total de remoção supera 409 mil tCO₂eq, reforçando a relevância da Amazônia costeira como um dos maiores reservatórios de carbono azul do planeta. 

Além do impacto climático, as soluções híbridas podem gerar até 30% de economia em custos de manutenção da estrada, estender sua vida útil e fortalecer a mobilidade e a segurança de comunidades que dependem da via para acessar mercados, escolas, serviços e meios de subsistência, como pesca artesanal e coleta de caranguejos.

“O potencial requalificação da PA-458 mostra que o futuro da infraestrutura na Amazônia começa quando a engenharia aprende com a natureza. É um projeto que traduz na prática o que defendemos há anos: soluções baseadas na ciência, que restauram ecossistemas, fortalecem municípios e criam novas oportunidades para o desenvolvimento climático do Brasil. Estamos inaugurando um novo padrão em que cada estrada pode ser também um corredor de resiliência, carbono azul e prosperidade local”, detalha ​​Renan Alves, Gerente de Carbono Azul da Conservação Internacional. “Uma solução de nova geração: quando a engenharia encontra o carbono azul”, sintetiza.

A experiência da PA-458 é considerada estratégica para o Brasil porque inaugura, na prática, uma categoria emergente de projetos com forte potencial de financiamento climático internacional, incluindo fundos voltados à adaptação baseada na natureza, infraestrutura resiliente, carbono azul e transição ecológica. Segundo o Banco Mundial, cada dólar investido em soluções naturais pode gerar até quatro dólares em benefícios líquidos, um indicador que reforça o valor econômico da integração entre engenharia e ecossistemas.

Proteger e restaurar ecossistemas costeiros não é apenas uma medida ambiental — é uma decisão econômica inteligente, estratégica e alinhada ao novo paradigma global de adaptação climática, destaca o estudo da CI-Brasil. As soluções previstas incluem:

  • instalação de passagens hidráulicas;
  • abertura de microcanais vegetados;
  • dragagem controlada;
  • restauração ativa de manguezais, com plantio assistido e monitoramento comunitário.

Cada técnica foi desenhada para restabelecer a conectividade hidrossedimentar, reduzir alagamentos e recuperar a funcionalidade ecológica de um dos ecossistemas mais valiosos do planeta.

A iniciativa se alinha diretamente às metas da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, ao Programa Cidades Verdes e Resilientes (PCVR) e ao Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no eixo Cidades Sustentáveis e Resilientes, que incorporam prevenção de riscos, infraestrutura sustentável e resiliência urbana como pilares estratégicos da política climática nacional.  

O projeto é fruto da cooperação entre a Conservação Internacional (CI-Brasil) e parceiros institucionais estratégicos, incluindo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Laboratório de Ecologia e Manguezal (LAMA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), a Prefeitura de Bragança e as Secretarias de Meio Ambiente do Pará (SEMAS) e do Amapá (SEMA), bem como entidades privadas.

“A requalificação da PA-458 representa mais que a recuperação de uma estrada: ela inaugura um novo padrão de desenvolvimento para o Brasil, onde obras públicas são também obras ecológicas, sociais e climáticas, preparadas para um mundo em aquecimento, para um litoral sob pressão e para um futuro onde adaptação e inovação caminham juntas”, conclui Renan.

Notícias relacionadas

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Últimas notícias

- Advertisement -spot_img