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Argentina aprovou trigo transgênico resistente à seca

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Martín de Ambrosio | Jornalista científico. Colaborador independente do SciDev.Net

A Argentina aprovou seu primeiro trigo transgênico, que contém um gene do girassol para torná-lo mais resistente à seca, mas sua comercialização dependerá da aprovação do Brasil, país que compra quase 50% da produção local e é seu principal parceiro no Mercosul.

Vários setores produtivos e empresariais expressaram preocupação de que os países importadores possam se recusar a comprar trigo geneticamente modificado, prejudicando o comércio de cereais. Portanto, a autorização do Brasil será decisiva para garantir o mercado internacional.

Não é a primeira vez que a Argentina deixa a decisão final de um produto geneticamente modificado nas mãos de outro governo: o mesmo ocorre com uma variedade de soja contra a seca, desenvolvida pela mesma equipe do trigo transgênico, que aguarda aprovação do governo chinês há cinco anos.

No caso do trigo, as fontes consultadas pela SciDev.Net não sabem quando e o que as autoridades brasileiras vão decidir, mas esperam que seja antes da campanha de 2021. No entanto, como anunciado pela Bioceres, a empresa privada que o desenvolveu, está pendente a aprovação de sua exportação para os Estados Unidos, Uruguai, Paraguai e Bolívia. “A empresa também está preparando apresentações para Austrália e Rússia, além de outros países da Ásia e da África”, relatou durante o lançamento virtual da variedade.

A variante transgênica do trigo, denominada HB4, foi produzida por uma aliança entre o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) e a Bioceres, após mais de 15 anos de testes. “Buscamos isolar genes reguladores da seca e testamos com girassol, que é bastante resistente, até encontrá-los depois de muitos testes feitos primeiro em outras plantas (do gênero Arabidopsis )”, disse Raquel Chan, diretora do Instituto de Saúde Agrobiotecnología del Litoral (Conicet / Universidad del Litoral) e líder do grupo que desenvolveu o trigo modificado.

Como parte dos testes, verificou-se que o novo trigo tinha produtividade média 20% maior em comparação ao trigo convencional, com variação entre 90 e 1%, dependendo da área e de outros fatores climáticos aleatórios. Também é resistente ao herbicida glufosinato de amônio.

Por sua vez, o Ministro da Ciência argentino, Roberto Salvarezza, destacou que ter diferentes variedades “pode ser uma ferramenta importante” para a economia local. “Nosso objetivo é aumentar a produção em um momento em que a Argentina passa por um severo ciclo de secas devido às mudanças climáticas, onde centenas de milhares de toneladas de produção são perdidas”, afirmou.

O trigo HB4, que ainda está em quarentena, havia passado pelas instâncias técnicas no início do ano passado, mas devido à polêmica que surgiu, o anterior governo argentino não tomou a decisão de aprová-lo, o que ocorreu agora com o governo Alberto Fernández, que assumiu o cargo em Dezembro de 2019.

Mas sua aprovação não é isenta de críticas de ambientalistas e pesquisadores sobre questões de ecologia e consequências dos agroquímicos para a saúde. Um setor da comunidade científica passou a reunir assinaturas em uma carta aberta solicitando o cancelamento da aprovação. Em poucas horas, adicionou mais de 200.

“O glufosinato de amônio é um produto classificado como altamente perigoso porque, entre outras coisas, altera a reprodução, assim como o glifosato”, disse Javier Souza Casadinho, coordenador regional da Rede de Ação de Agrotóxicos e suas alternativas para a América Latina. Ele esclareceu que embora o trigo HB4 seja resistente a esse herbicida, sua permanência no meio ambiente pode gerar diversos tipos de problemas. Além disso, ele destacou que a nova variedade pode avançar em sistemas naturais e também em outras culturas, como frutas. “Os OGM não resolveram problemas, nunca acabaram com a fome como prometido, mas sim geraram outras”, ressalta Souza Casadinho.

“Herbicidas não são uma coisa boa, mas nada melhor foi inventado. Essa tecnologia usa menos água e por isso também está cuidando do meio ambiente”, defende Raquel Chan, que está envolvida nessa pesquisa desde os anos 1990. “E é um gene do girassol, outra planta ancestral. Não é um gene de rinoceronte ou sapo, o que também não seria problema, mas sim um gene de outra planta comestível”, acrescenta.

A Argentina tem cerca de 17 milhões de hectares para soja e cerca de 7 milhões para trigo, segundo informações da Bolsa de Valores. “Sempre que há uma tecnologia disruptiva, os medos são gerados. Toda tecnologia tem seus riscos, acreditamos que você tem que apostar. Porque, no caso do trigo, a Argentina não é líder mundial, mas pode vir a ser”, conclui Salvarezza.

FONTE:

https://www.scidev.net/america-latina/agropecuaria/noticias/argentina-aprobo-trigo-transgenico-resistente-a-sequias.html?utm_medium=email&utm_source=SciDevNewsletter&utm_campaign=latin-america-and-carribean%20Actualizaci%C3%B3n%20semanal%20de%20SciDev.Net%C2%A0%2026%20octubre%202020

26/10/2020

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