Fundador da Sea Shepherd e reconhecido internacionalmente por sua luta contra a caça de baleias, o ambientalista volta a ser alvo de perseguição do governo japonês – agora em território brasileiro
Em plena Conferência do Clima da ONU (COP30), o ambientalista canadense Paul Watson, fundador da Sea Shepherd, tornou-se novamente alvo de uma perseguição jurídica do governo japonês. A Embaixada do Japão enviou ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil um pedido oficial de extradição, solicitando que o ativista seja entregue às autoridades japonesas.
A medida reacende um conflito que se arrasta há mais de quinze anos – considerado por diversos especialistas como um processo de natureza política. Desde 2010, após confrontos com a frota baleeira japonesa no Oceano Antártico, o Japão tenta enquadrar Watson como criminoso por motivos banais – uma forma de retaliação às ações diretas de proteção às baleias:
“O governo japonês está usando todo o seu poder para defender a caça ilegal às baleias e para me punir. Tudo o que conseguirão é expor ainda mais sua natureza criminosa, sua ganância desmedida e seu compromisso imoral em destruir a diversidade da vida no oceano”, afirma Paul Watson sobre a situação.
Por que o Japão persegue Paul Watson
Antes da moratória global da International Whaling Commission (IWC), em vigor desde 1986, o Japão já mantinha uma indústria baleeira bastante ativa. Após a moratória, o país continuou a operar sob o pretexto de “pesquisa científica” – apesar de seguir comercializando carne de baleia –, explorando uma brecha na moratória.
Sob a liderança de Paul Watson, a Sea Shepherd documentou e denunciou ao mundo essa prática, mostrando que a caça ocorria em águas protegidas – como o Southern Ocean Whale Sanctuary, instituído pela IWC em 1994. As ações diretas da organização – monitoramento, interceptações e bloqueios pacíficos – exerceram forte pressão internacional sobre o Japão, culminando em 2014 com uma decisão da Corte Internacional de Justiça (sigla ICJ em inglês) que concluiu que o programa japonês não possuía caráter científico legítimo.
Lista vermelha da Interpol, prisão e libertação na Groenlândia
Em 2012, o Japão, juntamente com a Costa Rica, conseguiram incluir o nome de Paul Watson na lista vermelha da INTERPOL, instrumento de cooperação internacional para localização de pessoas procuradas, normalmente utilizado para assassinos em série, traficantes e pessoas de alto nível de periculosidade – e não para ativistas que praticam ações não violentas de protesto. A inclusão foi amplamente criticada como uso indevido do sistema internacional para fins políticos.
Em julho de 2024, Watson foi preso em Nuuk (Groenlândia), a partir de um mandado japonês baseado no alerta da INTERPOL. Após cinco meses na cadeia, em dezembro de 2024, o governo dinamarquês decidiu não extraditá-lo ao Japão, citando falta de garantias de cumprimento de pena e os prazos decorridos. Watson foi liberado naquele mês e retornou à França. Em julho de 2025, a INTERPOL removeu oficialmente o Alerta Vermelho, alegando desproporcionalidade da acusação e motivação política do Japão.
Ainda assim, tudo indica que o Japão continuará a emitir pedidos bilaterais de extradição, que independentemente da INTERPOL, dependem da decisão soberana de cada Estado-membro – como a demanda que acabou de enviar ao Brasil.
Brasil diante de uma decisão histórica
A reapresentação do pedido de extradição às vésperas da COP30, evento que debaterá compromissos climáticos, pode ser vista como uma manobra de pressão diplomática sobre a imagem do Brasil em relação ao ativismo ambiental. A defesa de Watson no Brasil – por meio de advogados da Sea Shepherd Brasil – já protocolou um Habeas corpus preventivo para garantir a sua liberdade e segurança no país.
Organizações ambientais e líderes da sociedade civil pedem que o Brasil não ceda à pressão estrangeira e reafirme seu papel como protetor da vida marinha e dos defensores ambientais.
“Proteger quem protege o planeta é um dever ético e jurídico. Às vésperas de um dos eventos mais importantes no combate à crise climática e após todo o embate jurídico já finalizado, receber este novo pedido de extradição de um dos maiores defensores do meio ambiente no mundo é um grande desrespeito ao planeta, à humanidade e a todos os demais seres que vivem na Terra”, afirma Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil.
Sobre Paul Watson
Paul Watson é um renomado ativista ambiental e defensor incansável da vida marinha. Foi um dos membros fundadores e diretores do Greenpeace e, em 1977, fundou a Sea Shepherd Conservation Society, organização que se tornou símbolo global de ação direta pela proteção dos oceanos. Em 2022, Watson se afastou da entidade para cofundar a Captain Paul Watson Foundation, dando continuidade à sua missão pela defesa inegociável da vida aquática.
Mestre navegador, orador, autor e ambientalista de longa trajetória, o Capitão Watson recebeu inúmeras honrarias por sua dedicação ao oceano e ao planeta. Entre suas principais distinções estão o Genesis Award por Conquista Vitalícia (1998), a nomeação pela revista Time como um dos “20 Maiores Heróis Ambientais do Século XX” (2000) e sua inclusão no Hall da Fama dos Direitos Animais dos EUA (Washington D.C., 2002).



