Relatório internacional confirma mortalidade generalizada de recifes de corais e alerta: estamos ultrapassando os limites críticos do planeta
Por Redação ECO21, com informações da Universidade de Exeter e WWF-Brasil
Com o aquecimento global prestes a ultrapassar 1,5 °C, o planeta entra em uma nova e perigosa fase. Segundo o Segundo Relatório Global sobre Pontos de Inflexão, divulgado em 13 de outubro pela Universidade de Exeter e parceiros internacionais, os recifes de corais de águas quentes — dos quais dependem quase um bilhão de pessoas e um quarto de toda a vida marinha — já ultrapassaram seu ponto de inflexão.
O estudo alerta que estamos presenciando a primeira quebra irreversível do sistema terrestre — o primeiro “ponto de não retorno”.
Recifes em colapso: o primeiro alerta do planeta
A morte em massa dos recifes é o prenúncio de um futuro em que outros sistemas vitais — como as calotas polares, a floresta amazônica e as correntes oceânicas globais — também caminham para pontos de inflexão, com impactos devastadores e duradouros.
O relatório foi lançado no mesmo dia da abertura da pré-COP, em Brasília, onde negociadores internacionais discutem avanços no Acordo de Paris.
Helga Correa, especialista em Conservação do WWF-Brasil, enfatiza que o documento “é um lembrete contundente de que estamos ultrapassando os limites críticos do planeta”.
Segundo ela, “a Amazônia ainda pode desempenhar um papel decisivo na regulação do clima global, mas está perigosamente próxima de um ponto de não retorno”.
A especialista defende políticas robustas de conservação, valorização dos povos da floresta e investimentos em restauração ecológica como caminhos para reverter essa trajetória.
Pontos de inflexão positivos: esperança em meio à urgência
Apesar do alerta, o relatório também traz sinais de esperança.
Os cientistas apontam a possibilidade de “pontos de virada positivos” — processos auto-reforçados de mudança, como a rápida expansão das energias solar e eólica ou a adoção de veículos elétricos.
Esses avanços mostram que a transformação sustentável pode ser mais rápida do que se imagina.
“A Presidência da COP30 está comprometida em criar uma cascata de mudanças positivas, onde a inovação sustentável se torne a opção mais atraente e acessível”, afirma Helga.
O objetivo é fazer da COP30, em Belém, um marco global de virada, transformando o Brasil em referência de tecnologias verdes e desenvolvimento inclusivo.

“Estamos diante de um alerta global”
Para o Dr. Mike Barrett, cientista-chefe do WWF-Reino Unido e coautor do estudo, as conclusões são “extremamente alarmantes”.
“O fato de os recifes de corais estarem ultrapassando seu ponto de inflexão térmico é uma tragédia para a natureza e para as pessoas que dependem deles. Se não agirmos agora, perderemos também a floresta amazônica, geleiras e correntes oceânicas vitais. O resultado seria verdadeiramente catastrófico para toda a humanidade”, alerta.
Barrett reforça que as soluções estão ao nosso alcance — mas exigem coragem política, cooperação internacional e ação imediata.
Um relatório histórico: 160 cientistas, 87 instituições, 23 países
O relatório foi elaborado por 160 cientistas de 87 instituições em 23 países, e reforça um apelo urgente: cada décimo de grau conta.
Cada ano acima de 1,5 °C eleva o risco de cruzarmos novos limiares — do derretimento irreversível das calotas polares ao colapso da Circulação Meridional do Atlântico (AMOC), sistema que regula o clima e as chuvas de todo o hemisfério.
O professor Tim Lenton, diretor do Instituto de Sistemas Globais da Universidade de Exeter, adverte:
“Estamos nos aproximando rapidamente de vários pontos de inflexão do sistema terrestre. Precisamos de ação imediata e sem precedentes dos líderes da COP30 e de formuladores de políticas em todo o mundo.”
Desafio político e institucional sem precedentes
A Dra. Manjana Milkoreit, da Universidade de Oslo, explica que os pontos de inflexão “representam um novo tipo de ameaça que os sistemas políticos atuais não conseguem enfrentar”.
Segundo ela, “governança adaptativa e inovação institucional” serão essenciais para lidar com os riscos irreversíveis.
“Prevenir pontos de não retorno exige medidas de mitigação antecipadas, que reduzam o pico da temperatura global e acelerem a remoção sustentável de dióxido de carbono.”
O Brasil no centro da transformação
O relatório destaca a colaboração direta com a Presidência da COP30, liderada pelo embaixador André Corrêa do Lago, que apresentou o conceito de “Mutirão Global” — um esforço coletivo para acelerar ações climáticas com base na ciência e na sabedoria tradicional.
“Este relatório é uma resposta positiva e oportuna ao nosso convite”, declarou Corrêa do Lago.
“É uma evidência esperançosa de que a humanidade ainda pode escolher mudar e evoluir em direção a um futuro seguro, próspero e equitativo.”
O Brasil é visto pelos pesquisadores como potência estratégica para desencadear novos pontos de virada positivos — desde o aço verde e o hidrogênio limpo até a restauração da Amazônia e o fim do desmatamento nas cadeias produtivas.
Casos emblemáticos: Amazônia, recifes e correntes oceânicas
Entre os estudos de caso apresentados no relatório:
- Recifes de corais de águas quentes: mortalidade sem precedentes, com probabilidade superior a 99 % de colapso total mesmo com o aquecimento estabilizado em 1,5 °C.
- Floresta Amazônica: vulnerável a declínios generalizados com aquecimento em torno de 1,5 °C; contudo, políticas de governança local e valorização dos povos indígenas podem criar pontos de inflexão sociais positivos.
- Corrente do Atlântico (AMOC): risco de colapso abaixo de 2 °C de aquecimento global, o que poderia alterar monções, reduzir a produtividade agrícola e agravar crises alimentares globais.
De colapsos a renascimentos
O professor Tim Lenton conclui com uma mensagem de ação:
“Somente com políticas decisivas e mobilização social poderemos mudar nossa trajetória — de um caminho de riscos existenciais para um futuro de oportunidades sustentáveis. O tempo de agir é agora.”



