Semana do Rio discute como transformar compromissos climáticos em ação, com presença da presidência da COP30
Três décadas depois da Cúpula da Terra, realizada em 1992 e responsável por lançar a arquitetura global da Convenção do Clima, o Rio de Janeiro volta a ocupar a agenda de mobilização internacional com a primeira edição da Rio Climate Action Week (RCAW), que começou no dia 23 e termina no dia 29 de agosto, na capital fluminense. A programação inclui debates sobre transição justa, financiamento, adaptação e desenvolvimento no enfrentamento da crise climática.
A Semana do Rio é organizada em parceria com a London Climate Action Week, criada em 2019 e já replicada em cidades como Sydney, Dublin, Xangai e Baku, sede da última COP. Em 2025, a onda de “semanas do clima” – oficiais e paralelas – responde ao risco de esvaziamento da tradicional Semana do Clima de Nova York, fragilizada pela hostilidade do governo Trump a ambientalistas e a visitantes vindos da América Latina, África e Oriente Médio.
As semanas do clima se consolidaram como espaços alternativos de articulação entre sociedade civil, empresas e parlamentares e podem ser agrupadas em três categorias. A primeira reúne os eventos organizados sob a chancela da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que funcionam como extensão das COPs – em 2025 já foi realizada na Cidade do Panamá, em maio e a próxima será realizada na África, em setembro. A segunda, como a Semana do Clima de Nova York, foca na mobilização do setor privado e do mercado financeiro, atraindo investimentos e envolvendo empresas no debate. Já a terceira, mais recente, busca conectar a política internacional à ação local. Todas buscam acelerar compromissos locais e preparar agendas que mais tarde chegam às mesas de negociação formal, como as COPs (Conferências das Partes).
São Paulo também organizou de 2 a 8 de agosto sua semana do clima como preparação para a COP30. Segundo os organizadores, o objetivo foi conectar financiamento climático com soluções locais, a exemplo do fundo estadual Finaclima, voltado à conservação e restauração de florestas. Já a Rio Climate Action Week terá como foco o apoio direto à presidência brasileira da COP30, inclusive abordando o papel dos Parlamentos na transformação de compromissos internacionais em legislações nacionais.
“O mundo iniciou sua jornada pela sustentabilidade no Brasil há mais de 30 anos, na Rio 92. Agora, volta ao país para renovar compromissos. A Rio Climate Action Week será um marco fundamental no caminho para Belém”, afirmou Malini Mehra, embaixadora da London Climate Action Week e co-organizadora do evento.
Justiça Climática
A Rio Climate Action Week terá espaço dedicado à litigância climática, tema que ganha peso após a decisão histórica da Corte Internacional de Justiça sobre responsabilidades estatais na crise climática. Nos dias 25 e 26 de agosto, o Encontro sobre Litigância Climática para a Transição Energética Justa reunirá especialistas de diferentes setores, refletindo a crescente utilização de ações judiciais como instrumento de pressão política. O Brasil, hoje quarto país do mundo em número de processos climáticos, é peça-chave nesse movimento.
“A litigância climática tem se tornado uma das ferramentas mais importantes para pressionar governos e empresas a assumirem de fato suas responsabilidades”, afirma Délcio Rodrigues, diretor do Instituto ClimaInfo e um dos especialistas que irá participar do debate no dia 26. “O Brasil já é o quarto país com mais processos climáticos do mundo, e esse número só deve crescer diante da urgência da crise e das recentes decisões da Corte Internacional de Justiça. Estamos diante de um novo capítulo em que o Direito pode acelerar transformações que a política ainda demora a entregar”.

Sobre os debates em torno do tema de transição justa, Maryellen Crisóstomo, consultora em Justiça Econômica e Direito das Mulheres da ActionAid chama a atenção para a mesa “Quem deve a quem? Diálogos para uma Transição Justa”, no dia 27. O debate deve destacar que o racismo ambiental precisa ser central na discussão sobre transição justa, considerando que esse conceito engloba reparações históricas para povos e populações marginalizadas pelas estruturas desenvolvimentistas ancoradas na segregação racial, econômica e social.
“A crise climática, olhando a partir dos desastres ambientais, acentua desigualdades sociais porque os impactos são devastadores em localidades com pouca ou nenhuma infraestrutura. As pessoas que têm poucos recursos econômicos e materiais perdem tudo e não dispõem de meios para se reestruturar”, explica Crisóstomo.
Confira alguns destaques da programação:
Ontem (25) aconteceu a conferência de abertura internacional no Museu do Amanhã, que trouxe o legado da Cúpula da Terra de 1992 e o terreno político e social para a COP30, com a presença dos Ricardo Piquet, diretor do Museu do Amanhã e os co-organizadores da Semana Marcelo de Andrade e Malini Mehra.
André Corrêa do Lago, Presidente da COP30, fez um dos discursos principais que abordou os desafios climáticos atuais e a herança do Rio, além de Hanne Strong, fundadora da Fundação Manito que trouxe uma reflexão sobre o arquiteto da Cúpula da Terra do Rio e os desafios modernos.

Hoje (27), o tema foi agricultura e dos sistemas alimentares;
A programação da semana será organizada em torno de temas centrais para a agenda climática:
- quarta-feira, 27: transição da energia, indústria e transportes;
- quinta-feira, 28: Cidades, Infraestrutura e Água;
- sexta-feira, 29: Conferência de encerramento.