Dentro da rica e densa Floresta Amazônica, há um mundo cheio de vidas e histórias, algumas delas ainda desconhecidas. Entre as enormes árvores ou escondidos em suas rochas, estão desenhos que contam e preservam as histórias dos povos americanos, contadas no inédito documentário “Arqueologias Amazônicas: Memórias de Chiribiquete”, que estreia com exclusividade no Curta!.
Produzido pela ARTE France e com direção de Juan José Lozano e Aurine Crémieu, o documentário apresenta o trabalho científico que busca, na Amazônia, desvendar o nosso passado e revolucionar os estudos sobre a espécie humana. A produção traz imagens inéditas e entrevistas com pesquisadores de várias nacionalidades, entre eles a franco-brasileira Niède Guidon, que criou a Serra da Capivara, no Piauí, e faleceu em junho deste ano.
Nas montanhas do Parque Nacional de Chiribiquete, no sul da Colômbia, os pesquisadores estudam um patrimônio arqueológico de inestimável valor. Chamadas de ‘tepuis’ pelos ameríndios, essas rochas no meio da floresta preservam milhares de pictogramas, que guardam as crenças, costumes e rituais de povos antigos.
O documentário acompanha os pesquisadores em suas incursões em espaços de difícil acesso. As pinturas, que remontam aos primórdios do povoamento do continente, eram feitas nesses paredões rochosos para que a chuva e o sol não as danificassem. Por serem tão bem escondidas e protegidas, só foram descobertas no século XX, e ainda há muito o que descobrir.
“Estima-se que conhecemos muito pouco o Chiribiquete. Vários fatores impediram a vinda de pesquisadores por um longo tempo, como o financeiro, já que até hoje é muito caro fazer pesquisas na Amazônia. E também conflitos no país, que afastaram pesquisadores de realizarem pesquisas”, explica Fernando Montejo, arqueólogo que supervisiona a expedição.
A emoção dos expedicionários diante dos paredões com desenhos é representada na figura do antropólogo Carlos Castaño. Líder da expedição, ele dedica sua vida e sua carreira a estudar o sítio, tentando decifrar os desenhos de tartarugas, macacos em cipós, bagres, cervos, de objetos como bolsas, e figuras humanas como caçadores, guerreiros e xamãs.
“Chiribiquete é um local excepcional porque pode abrir um caminho da história da evolução humana desde os tempos mais longínquos. Cada expedição fornece novas informações, que evocam uma série de questões e contribuem para o conhecimento”, declara.
O filme mostra que datar esses pictogramas é tão importante quanto decifrá-los. Para isso, Carlos viajou ao Parque Nacional da Serra da Capivara, outro ponto fundamental da história da ocupação humana nas Américas, para conversar com Niède Guidon, pesquisadora franco-brasileira referência na arqueologia rupestre, falecida neste ano, para estudar similaridades entre as pinturas de cada local.
“Tanto no Chiribiquete quanto na Serra da Capivara temos elementos muito característicos na figura humana. Na postura, na intenção do corpo: os braços estão sempre pra cima em uma atitude beligerante ou de respeito, e em muitos casos empunhando armas”, destaca Castaño.
O documentário registra também a busca por petróglifos, ao sul de Chiribiquete. E nos deixa como mensagem que a importância de desvendar os mistérios dessas gravuras vai além de entender os mitos das comunidades indígenas. É uma forma de libertar a Amazônia de estereótipos, ao oferecer aos seus povos originários um retorno respeitoso à sua cultura e raízes, após anos de genocídios e preconceitos.
“Esse desprezo pela arte rupestre, que é fundamentalmente uma arte indígena, é concomitante com essa atitude racista, classista, que despreza suas origens”, afirma o etnógrafo Fernando Urbina Rangel. “Arqueologias Amazônicas: Memórias de Chiribiquete” é uma produção da ARTE FRANCE. O filme também pode ser visto no CurtaOn – Clube de Documentários, disponível no Prime Video Channels, da Amazon, na Claro TV+ e no site oficial da plataforma (CurtaOn.com.br). A estreia é no dia temático Sextas de História e Sociedade, 18 de julho, às 22h.