Eco-distância – (aos cacaueiros da Transamazônica)

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Foto: Reprodução

* por Paulo von Atzingen

Na eco-distância deste rio de milênios
entre glebas de castanha
e minas de ferro
campos de soja e de vacaria
surgem esse novo garimpo
esse ouro ao contrário
que também brota da terra
e impõe seu tratado
mais natural, mais puro, mais limpo.

Na eco-distância desses braços de água
em sua grande curva de rio infinito
nasce um novo reinado
moderno e sofisticado
em que o próprio rei é o fruto
e quem governa
é o homem que
havia sonhado.

Na eco-distância dessas estradas em pó
entre a terra das grotas e a serra das mágoas
fermenta no cocho a semente
e a química
a dança misteriosa das bactérias
faz um pacto com o tempo
e o milagre acontece:
a semente morre
e ressuscita
o alimento.

Na eco-distância do ser florestal
rasgado por uma linha reta
cercada por jaguatiricas e antas
araras e homens sem lei
um terçado abriu a trilha
para o castanhal deposto
para o jequitibá morto
para o angelim decapitado
para o jacarandá serrado ao meio
para o mogno tombado vivo.

Na eco-distância de um mundo ideal
entre fumaças de um ontem
e castelos de cinzas
extirpa-se do ser o mal
a fórceps
e semeiam no meio da pátria tropical
no centro do sol equinocial
esse ouro futuro
de abastança, de fartura e boa herança:

O cacau.

* Paulo von Atzingen é jornalista, poeta e cronista. Fundou o site Diário do Turismo.

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