Segundo especialistas, Pequim anunciou meta pouco ambiciosa para os seus padrões e desperdiçou oportunidade de desafiar outros países a reforçarem seu compromissos
PERI DIAS | ECO21
A nova meta climática nacional da China para 2035, anunciada nesta quinta-feira (25 de setembro), mostra ambição abaixo do esperado, segundo especialistas do Climate Action Tracker (CAT), projeto científico que monitora as ações climáticas de governos de todo o mundo.
De acordo com os analistas, é improvável que os compromissos divulgados pelo governo chinês reduzam o nível de emissões de gases causadores do aquecimento global do país asiático, em relação ao que o país já tinha se comprometido a fazer em anúncios anteriores.
“Considerando que a China é a maior emissora mundial e líder em energia limpa, esta nova meta poderia ter sido uma grande oportunidade para o país ajudar o mundo a atingir as metas climáticas globais”, afirma Norah Zhang, líder do Climate Action Tracker na China e analista do NewClimate Institute. “No entanto, nossos cálculos mostram que é improvável que a nova meta reduza ainda mais as emissões, visto que a China já está preparada para atingir essa meta com as políticas em vigor. Isso é decepcionante, pois a China tem a oportunidade de descarbonizar (sua economia) mais rapidamente”, completa Zhang.
O presidente chinês, Xi Jinping, anunciou a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do país, como são chamadas oficialmente as metas climáticas nacionais, em um videoconferência durante a cúpula de líderes sobre clima realizada na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York, nas mesma semana da Assembleia Geral da ONU.
Entre as principais metas anunciadas estão alcançar 3.600 GW de capacidade eólica e solar e uma participação de 30% de energia não-fóssil na energia primária. Para a Climate Action Tracker, as medidas são “excessivamente conservadoras em comparação com os cenários políticos atuais previstos pela organização”.
Outra preocupação dos analistas do projeto é que a meta se refere às emissões líquidas, que incluiriam o setor de terras e florestas (LULUCF), e não às emissões absolutas, o que a torna menos transparente.
Faltou clareza
Para o Observatório do Clima (OC), rede de ONGs brasileiras referência em temas ambientais, a nova meta da China é “enigmática”.
“Ninguém sabe ao certo se a China atingiu o pico de emissões no ano passado (com 15,8 bilhões de toneladas de CO2 equivalente, ou 32% do total mundial) ou se o atingirá este ano”, afirma o OC. Essa indefinição torna “impossível neste momento traduzir a meta em toneladas de carbono reduzidas, e a linha de base poderá variar”, afirmam os especialistas da rede.
“Uma análise do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) mostrou que a China teria condição de reduzir emissões em pelo menos 30%, o que seria compatível com uma trajetória de 1,5oC de aquecimento. Sua NDC, portanto, não está alinhada com a meta de temperatura do Acordo de Paris”, conclui o OC.
Pontos positivos
Tanto a Climate Tracker Action quanto o Observatório do Clima destacam, no entanto, que a nova meta chinesa também trouxe aspectos positivos para a ação climática
A CAT destaca “a mudança das metas de emissões e intensidade energética para, pela primeira vez, o estabelecimento de metas absolutas de redução de emissões”. Também relembra os avanços recentes obtidos pela China.
“2025 pode marcar o ano de um pico nas emissões da China se o impulso na transição para energia limpa continuar até o final do ano. O forte crescimento da energia limpa contribuiu para uma queda anual de 1% nas emissões de CO₂ no primeiro semestre de 2025, estendendo uma tendência de queda iniciada em março de 2024. A China é a potência que impulsiona a transição energética global, fornecendo 80% dos painéis solares, 60% das turbinas eólicas e 75% dos veículos elétricos em todo o mundo”, apontam os especialistas.
Já o OC aponta que “os chineses têm o hábito de prometer menos do que costumam entregar no mundo real”.
Ao longo da Semana do Clima, 47 países apresentaram novas NDCs e 51 prometeram submetê-las até o fim de 2025.