Após a sessão de promessas para o Fundo de Adaptação, apenas sete países (Bélgica, Alemanha, Islândia, Irlanda, Luxemburgo, Espanha e Suécia) anunciaram novas contribuições, somando US$ 127,9 milhões — um valor baixo em comparação a anos anteriores e ainda distante da meta anual de captação do Fundo, de US$ 300 milhões.
A última COP, em Baku, terminou com a garantia de que os países ricos começariam a mobilizar US$ 300 bilhões por ano — mas, até agora, pouco se materializou. Ao mesmo tempo, países vulneráveis enfrentam erosão de seu PIB por impactos climáticos, aumento do endividamento e capacidade limitada de investir na transição energética em meio a juros altos. Sem dinheiro na mesa, é difícil visualizar como a COP30 poderá entregar resultados.
As negociações de texto estão travadas em torno de uma questão-chave: países em desenvolvimento defendem que o financiamento climático deve ser “fornecido” (isto é, diretamente pelos governos) e não “mobilizado” (ou seja, gerado por uma combinação de fontes, incluindo o setor privado)
Declarações
Dr. Richard Muyungi, Presidente do Grupo Africano de Negociadores: “É profundamente preocupante que ainda estejamos ouvindo promessas vagas sobre financiamento climático. Achei que havíamos deixado o vago para trás no ano passado. Nossa confiança — e o futuro de nossas economias — está por um fio, e o mundo não pode permitir mais frustração. Neste ponto, qualquer coisa menos que compromissos claros e concretos é uma violação do direito internacional. Para a África, o Artigo 9.1 deve ser plenamente implementado, assim como qualquer outra parte do Acordo de Paris. É uma obrigação, não uma opção. E, ainda assim, poucos países desenvolvidos anunciaram novas promessas. Sem compromissos reais, o financiamento para adaptação será substituído por empréstimos, obrigando países vulneráveis a pagar por impactos que não causaram. A mobilização de recursos do Artigo 9.3 pode apoiar mitigação, mas não substitui a provisão garantida do Artigo 9.1. A adaptação depende disso — e também a credibilidade de todo o acordo.”
Evans Njewa, Presidente do Grupo dos Países Menos Desenvolvidos (LDC): “No ano passado, os países ricos disseram que uma nova era de financiamento climático estava começando. Mas, após um ano de impactos devastadores que destruíram meios de vida, agravaram a insegurança alimentar e deixaram os PMDs com contas impagáveis, agora nos dizem que a carteira está vazia. Não iniciamos este incêndio, mas estamos recebendo a conta — a conta dos países ricos. É hora de pagá-la. O roadmap para US$ 1,3 trilhão é apenas um ponto de partida; entrega e responsabilidade são os verdadeiros testes de sucesso. E, na adaptação, a promessa de Glasgow de duplicar o financiamento até 2025 deve agora ser sucedida pela meta de triplicar o financiamento para pelo menos US$ 120 bilhões por ano até 2030 — financiamento real, novo e adicional, baseado em doações. Triplicar significa pelo menos seis vezes o nível de 2019. Precisamos de cronogramas claros, caminhos transparentes e recursos previsíveis. Temos o mapa; agora precisamos pegar a estrada.”
Sandra Guzmán, fundadora do Grupo de Financiamento Climático para a América Latina e o Caribe:
“O ponto central é que os países desenvolvidos ainda não reconheceram a falta de compromisso com a provisão clara de financiamento climático, especialmente para adaptação. O que precisamos ver são compromissos definitivos e clareza sobre como os países desenvolvidos vão fornecer financiamento climático a partir de seus orçamentos públicos no contexto da nova meta coletiva quantificada acordada no ano passado.”
Linda Kalcher, Diretora Executiva, Strategic Perspectives:
“Com dívidas e impactos climáticos aumentando, muitos países em desenvolvimento já enfrentam dificuldades financeiras — especialmente para adaptação. Muitos países desenvolvidos fora da Europa não apresentaram contribuições significativas nos últimos anos, o que é aviltante. A UE mobilizou mais de € 40 bilhões no ano passado, permanecendo um parceiro confiável que pode agora dar garantias de que o apoio continua em 2025. Apoiar o pedido dos Países Menos Desenvolvidos para triplicar o financiamento de adaptação pode ajudar a destravar apoio para a resposta das NDCs e para a transição para longe dos fósseis.”
Joe Thwaites, Senior Advocate, International Climate Finance, NRDC: “Uma forma de ajudar a destravar o impasse seria concordar com uma nova meta de financiamento para adaptação dentro do NCQG, para a qual todos os países ricos contribuam. Existem várias opções sobre a mesa que podem criar um espaço de consenso. Os governos também precisam ser claros sobre o que pretendem fazer para manter o ritmo rumo aos US$ 1,3 trilhão. Ninguém espera que adotem todas as recomendações do Baku-Belem Roadmap, mas precisam manter o processo em movimento e evitar que isso vire apenas mais um relatório de financiamento climático esquecido na prateleira.”
David Ryfisch, Head of Future-proof Finance, Germanwatch:
“Para viabilizar um resultado ambicioso na COP30, os países ricos precisam responder positivamente ao pedido dos países em desenvolvimento por uma nova meta de financiamento para adaptação. Para acelerar o aumento dos fluxos financeiros no curto prazo, o Baku–Belém Roadmap oferece respostas. Agora cabe aos países apoiá-lo e começar a impulsionar sua implementação.”



