Novo rascunho do texto final elimina referência à transição, gera indignação entre países e ONGs e reacende debate sobre financiamento climático
Por Peri Dias e Rudá Capriles, especial para a Eco21
Nesta sexta-feira (21), a COP30 viveu um dos momentos mais tensos desta reta final de negociações em Belém. Depois de dias de relativo otimismo sobre a inclusão de um “mapa do caminho” para o fim dos combustíveis fósseis, o novo rascunho do texto final — divulgado na manhã de hoje — simplesmente apagou qualquer menção à transição energética global.
A mudança brusca no documento gerou perplexidade, preocupação e indignação entre delegações alinhadas com a descarbonização e organizações socioambientais que acompanham a COP30.
Do otimismo ao alerta vermelho
Até ontem (20), mais de 82 países, somados a uma coalizão expressiva de ONGs, trabalhavam com a expectativa de que pela primeira vez um texto da COP apresentaria um plano conjunto, justo e ordenado para abandonar os combustíveis fósseis — algo considerado um marco histórico.
A exclusão repentina dessa referência no segundo rascunho mudou completamente o clima na conferência.
- Países progressistas na pauta climática reagiram com firmeza.
- ONGs denunciaram o retrocesso como “inaceitável”.
- Delegações temem que pressões internas de grandes produtores de petróleo estejam por trás do recuo.
Na manhã desta sexta, a Colômbia liderou um evento no qual 25 países reafirmaram publicamente que pretendem ampliar sua ambição climática, com uma rodada de conversas já marcada para abril de 2026. O gesto foi interpretado como um esforço para pressionar o retorno da menção aos fósseis no texto final.
Mas a grande dúvida segue no ar:
a pressão diplomática será suficiente para recolocar essa referência no documento final da COP30?
O fator decisivo: financiamento climático
Outro ponto que trava a negociação — e que está diretamente ligado ao debate sobre os combustíveis fósseis — é o financiamento para países em desenvolvimento.
As nações mais pobres cobram compromissos claros dos países ricos sobre:
- recursos para a transição energética;
- apoio à adaptação climática;
- compensação por perdas e danos.
A argumentação é conhecida, legítima e amplamente documentada:
foram os países industrializados que mais poluíram historicamente, e são eles que têm capacidade financeira para apoiar a transformação global.
Até agora, porém, não houve avanços concretos. E a ausência de sinalização financeira consistente impede que países vulneráveis assumam compromissos mais ambiciosos — inclusive aqueles ligados à eliminação gradual dos combustíveis fósseis.
Sem financiamento, não há consenso.
Sem consenso, não há caminho comum.
Sem caminho comum, o texto final permanece frágil e diluído.
Clima de Belém: da esperança à inquietação
A COP30 entrou hoje em uma nova fase — menos celebratória e mais combativa. O otimismo moderado dos primeiros dias deu lugar a:
- preocupação diplomática;
- mobilização de países alinhados à ciência climática;
- frustração de organizações socioambientais;
- incerteza sobre o desfecho do texto final.
A pergunta que paira sobre Belém é clara:
a COP30 terminará com um compromisso explícito rumo ao fim dos combustíveis fósseis — ou com um silêncio que pode custar caro ao planeta?



