por Arthur Soffiati
Quando ocorrem desastres climáticos no Brasil, a grande imprensa noticia muito, porém mal. No caso da enchente do Rio Grande do Sul, em maio de 2024, e nas enchentes e secas da Amazônia, o repórter entrevista pessoas afetadas, informa que os fenômenos são efeitos das mudanças climáticas, mostram cenas curiosas, como as de animais em cima de telhados, pessoas que inventam meios de fugir do desastre, rápidas opiniões de cientistas e nada mais. Pode ser que baste ao grande público. Eu fico descontente. Primeiro pelo emprego de expressões confusas, como “seca ou enchente histórica”, “maior fenômeno de todos os tempos”, “mais intensa chuva ou seca já registrada” etc.
Sinto falta, na grande imprensa, de informações mais precisas. Que os afetados continuem sendo entrevistados, que os cavalos, cachorros e gatos sejam mostrados em suas soluções para escapar dos desastres, que se fale das catástrofes como resultantes de mudanças climáticas etc. Contudo, é preciso ir além, e este passo adiante não custa muito tempo dos jornais de grande circulação e das TVs. As moças e moços do tempo poderiam mostrar desastres ambientais no mundo todo em breves palavras. Pelo menos, mostrar que uma enchente em fronteiras internacionais não afeta apenas o Brasil, mas outros países da América do Sul.
No momento em que escrevo, o leste da Ásia enfrenta chuvas e tufões. A China está sofrendo com enchentes arrasadoras. Um jornal publicado em Macau, China, traz informações sobre aquela parte do mundo. Redigido em português (Macau foi domínio português até 1999), o periódico também informa sobre o leste asiático. Mas ignora o que se passar no mundo.
Busco informativos especializados e sou informado das copiosas chuvas no Paquistão neste agosto de 2025. A grande imprensa escrita e televisada do Brasil deu uma breve nota. Em 2022, foi registrada a maior enchente que o país sofreu, com 1500 pessoas mortas em 33 milhões de habitantes. Em agosto de 2025, morreram, até agora, 350 pessoas em 48 horas. Como não sou climatologista, recorro a dados acessíveis a qualquer pessoa na imprensa especializada ou nos centros de pesquisas sobre clima.
O Paquistão, assim como a Índia e Bangladesh, formou-se ao pé dos Himalaias, a mais alta cordilheira do mundo. A partir de certo ponto, a água se transforma em gelo. A água evaporada do oceano Índico é empurrada para o continente e esbarra nas montanhas, provocando copiosas chuvas. São as monções. As águas pluviais descem e provocam cheias. A neve derretida pelo calor engrossa as enxurradas. Assim, as chuvas intensas de monções se associam ao derretimento das neves, alagando campos cultivados, arrastando casas e pontes e matando pessoas. Um negacionista ou desatualizado dirá que não existe novidade com o clima porque isto sempre aconteceu.
De fato, todos esses fenômenos existem no Holoceno. Mas, agora, estão sendo potencializados pelas mudanças climáticas, e estas estão sendo causadas pela ação humana. O fenômeno de 2022 se repete em 2025, até agora com menor intensidade. Mas, de qualquer forma, reforçando a tendência de que o clima está mudando na direção de intensificar temperaturas mais altas e mais baixas, assim como chuvas mais torrenciais e secas mais severas que há 50 anos. Os padrões naturais do século XIX estão sendo substituídos pela falta de padrões no século XXI.
Caminhando na direção da Europa, as mudanças climáticas estão se manifestando na forma de altas temperaturas e secas severas, principalmente na orla do Mediterrâneo. A Península Ibérica arde em chamas novamente. O fogo acentua a secura. Durante o inverno, o ambiente não se recupera. No verão seguinte, o fogo retorna e aprofunda mais ainda a aridez. A conclusão das autoridades geralmente aponta incendiários como responsáveis. Deve-se acreditar. Sempre há um criminoso a se aproveitar da situação. Mas nenhum piromaníaco consegue incendiar um rio. Se o seu fósforo prospera é porque a secura do ambiente o favorece. E outro fator a favorecer os incêndios: a plantação do eucalipto como monocultura em larga escala.
O calor, na Europa e na Ásia Menor, vai além da Península Ibérica. Ele atinge a Inglaterra, a França, os Alpes, a Itália, a Grécia e a Turquia. As neves antes eternas dos Alpes derretem com o calor e causam enxurradas. As altas temperaturas têm matado pessoas de todas as idades. A medida de curto prazo para amenizar o calor é construir centros artificialmente refrigerados com o consumo de energia nem sempre renovável, o que agrava a emissão de gazes do efeito estufa.
Estamos caminhando para um mundo melhor em termos ambientais? Parece que não. A Conferência de Genebra para reduzir a produção de plástico e a poluição que ele causa nos oceanos acabou em agosto de 2025, resultando num completo fracasso. Os países produtores de petróleo, com o qual o plástico é fabricado, sabotaram um acordo de redução. Afinal, a economia está sobrepujando o ambiental. Será que a COP-30 vai terminar da mesma forma?
Mas voltando ao momento do tempo da grande imprensa, a sugestão é que ele passe a ser o momento do clima e, de forma sintética e objetiva, mostre um panorama climático do mundo, mostrando sinteticamente as causas específicas de cada desastre, sem se alongar e sem jogar tudo na grande lata das mudanças climáticas. O desejável é mostrar como as mudanças climáticas afetam cada ambiente de acordo com suas especificidades