Rudá Capriles | Eco21
O Brasil se despede de Hermeto Pascoal, gênio da música que transformou o improviso em linguagem universal, mas a natureza escolheu eternizá-lo de uma forma singular: batizando uma árvore descoberta em 2022 na Mata Atlântica com o seu nome.
A Dipteryx hermetopascoaliana, que pode alcançar até 30 metros de altura, foi registrada no município de Branquinha, em Alagoas — terra natal do “mago dos sons”. A descoberta, conduzida por pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e instituições parceiras, é um marco não apenas científico, mas também simbólico.
Assim como Hermeto, que fez da diversidade cultural brasileira um idioma dentro do universo infinito da música, a nova árvore é símbolo de resistência da megadiversidade da Mata Atlântica, o bioma mais devastado do país, hoje reduzido a cerca de 10% da sua cobertura original.

Mestre da música universal, Hermeto transformava qualquer objeto em instrumento, revelando a presença de melodia no ar, na água, nos animais e até no silêncio. Sua obra sempre foi mais do que música: era ecologia, espiritualidade e poesia. O batismo dessa árvore é, portanto, uma homenagem que costura o humano ao natural, o som à floresta, a improvisação ao ciclo da vida.
Hermeto se foi, mas continua enraizado na cultura e agora também na própria mata. Como um tronco que sustenta a diversidade e uma copa que aponta para o infinito, sua memória se eleva com a mesma grandeza dessa árvore que carrega seu nome.
Que sua música e sua árvore sigam lembrando ao mundo que tudo é som, tudo é vida, tudo é resistência.
