A Associação Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS) acaba de lançar os Questionários para Avaliação de Desempenho Climático e Socioambiental para os setores de mineração, indústria siderúrgica, de cimento, têxtil e de madeira. A ferramenta foi criada para que as instituições financeiras e empresas possam mapear e identificar riscos e oportunidades nas operações e cadeias produtivas desses setores, sempre levando em conta aspectos ambientais, sociais e de governança (ASG). Além disso, foram publicados também questionários para avaliação do cumprimento da legislação socioambiental.
Esses instrumentos permitirão avaliar de forma objetiva o desempenho socioambiental e climático de minas e fábricas nos setores mencionados, permitindo fazer comparações entre empresas que atuam no mesmo segmento e região. A metodologia diferencia indicadores para os quais a localização é relevante, como impactos sobre a biodiversidade terrestre, uso de recursos hídricos, gestão de efluentes e impactos em comunidades locais, daqueles que independem do local, como emissões de gases de efeito estufa e saúde e segurança do trabalho.
Segundo Luciane Moessa, Diretora Executiva e Técnica da SIS, “essas informações são importantes tanto sob o prisma dos impactos climáticos e socioambientais (que repercutem na sociedade como um todo) quanto em razão das consequências financeiras, pois os estudos já realizados têm demonstrado que há correlação entre desempenho ASG e rentabilidade.”
Para desenvolver os questionários, a SIS se baseou em padrões de sustentabilidade globais, como da International Finance Corporation (grupo Banco Mundial), Global Reporting Initiative, SASB, IFRS S1 e S2, TNFD, Science-based Targets Initiative, ODS, e nacionais, como os indicadores do ISE, da B3. Também foram consideradas as tecnologias sustentáveis que constam nas Taxonomias Verdes/Sustentáveis que incluíram algum dos setores em questão, ou seja, as da União Europeia, Geórgia, Austrália, China, Mongólia, Indonésia, Tailândia, Singapura, África do Sul, Kênia, Chile, México e Panamá, além da brasileira.
Segundo Moessa, o objetivo não foi reinventar um modelo já disponível. “A ideia é integrar taxonomias e padrões globais em um questionário mais objetivo e pragmático, e o próximo passo natural será discutir pesos para cada questão.”, explicou.
Foi elaborado também um questionário transversal que deve ser utilizado para todos os setores econômicos, incluindo temas como diversidade de gênero e etnia, prevenção e combate à corrupção, questões concorrenciais e outras.
De acordo com Luciane, “os questionários são úteis tanto para empresas que já possuem relatórios de sustentabilidade, pois, na prática, elas decidem o que divulgar, quanto para aquelas que ainda não os possuem, permitindo a comparação para verificar se o desempenho em sustentabilidade de cada uma está na média, acima ou abaixo da média do setor, e como elas evoluem ao longo do tempo”. Esse diagnóstico, segundo ela, permite que instituições financeiras e clientes das empresas tenham clareza em que tema é ou não necessário se engajar para melhorarem esse desempenho.
O lançamento dos questionários aconteceu no 16º BIS – Bate-papo Inclusivo e Sustentável da SIS, com participação dos debatedores Christian Riquelme, Gerente de Governança e Participações da PREVI, e Priscila Pereira, do Departamento de Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria. O evento também contou com a participação de Julio Grillo do Fórum Permanente São Francisco, que apoiou a SIS no desenvolvimento do questionário do setor de Mineração.
Christian Riquelme relatou que, quando iniciou sua jornada de sustentabilidade, a PREVI não usava questionários setoriais, mas passou a fazer isso quando aprofundou temas socioambientais, desde 2023, sendo que atualmente ela não apenas os usa como atribui um peso a cada questão, de modo a obter um rating ASG de cada empresa. “Os questionários não são enviados para as empresas; nós os preenchermos com dados coletados de provedores de informações”, explicou. “Muitas vezes lidamos com problemas de defasagem, lacunas na cobertura e falhas na interpretação das questões por sistemas automatizados. Os questionários elaborados pela SIS podem complementar as ferramentas que o setor financeiro já vem utilizando.”
Júlio Grillo destacou que os questionários têm um papel essencial no setor de mineração, especialmente diante da atual falta de transparência das empresas sobre a gestão de riscos de rompimento ou transbordamento de barragens de rejeitos e de escorregamento de pilhas. Ele também reforçou a importância da fiscalização, já que algumas soluções consideradas “verdes” podem, na prática, representar novos impactos ambientais – como na substituição do carvão mineral pelo vegetal na indústria siderúrgica. Segundo ele, o carvão vegetal costuma ser proveniente de plantações de eucalipto que, em diversas regiões do Cerrado brasileiro, têm provocado a perda de nascentes e afetado ecossistemas inteiros.
Já para Priscila Pereira, além da importância de fiscalização, os questionários podem funcionar como uma ferramenta interessante para introduzir os assuntos de sustentabilidade nas empresas. “Apenas 41% das indústrias brasileiras fazem relato de sustentabilidade. Entre pequenas e médias, esse percentual cai para 17%, sendo que o relato é um ponto de partida para a transição necessária em sustentabilidade. Mesmo com limitações, pequenas e médias empresas precisam atender padrões mínimos, e os questionários servem justamente para orientar essa melhoria contínua.”
Ela também sugeriu a inclusão de questionários CDP entre os padrões mapeados, e que as questões sejam separadas entre níveis básico, intermediário e avançado, inclusive porque algumas das tecnologias mencionadas nem sempre estão disponíveis amplamente no Brasil. Pereira salientou ainda a importância da educação em temas ASG no setor industrial, além do engajamento com as lideranças e diálogo com partes interessadas. Por fim, ela colocou como um dos grandes desafios a rastreabilidade da cadeia de fornecedores.



