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O Que a COP30 Entregou em Belém

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Lúcia Chayb Diretora eco21.eco.br @eco21_oficial @luciachayb luciachayb@gmail.comPor trinta anos foi a jornalista responsável pela revista ECO21 (1990/2020)

Mesmo sob tensão global e com os EUA isolados, países garantem avanços concretos para a transição climática

Em um dos momentos geopolíticos mais turbulentos da última década, a COP30 — realizada em Belém do Pará — entrou para a história como uma conferência diferente de todas as anteriores. Se a confiança no multilateralismo parece abalada em muitos setores, o processo climático mostrou força: 194 países sentaram à mesa e conseguiram preservar consensos mínimos para seguir avançando na agenda climática global.

A mensagem que emergiu de Belém é clara: liderança climática passou a ser sinônimo de proteção econômica. Enquanto os Estados Unidos apostam em posições que os isolam — inclusive dentro do próprio G20 —, o restante do mundo reforça que agir pelo clima deixou de ser um custo e se tornou uma vantagem competitiva. Prova disso é que, dez anos após o Acordo de Paris, os investimentos globais em transição energética já somam US$ 2,2 trilhões, o dobro do que ainda vai para os combustíveis fósseis (US$ 1,1 trilhão), segundo a Agência Internacional de Energia (IEA).

A Presidência brasileira definiu esta como a “COP da implementação”. E, apesar de todas as turbulências, saiu de Belém um conjunto relevante de acordos, mecanismos e compromissos que redesenham a trajetória da ação climática global.

Avanços Centrais da COP30

Mitigação: mais NDCs, roadmap duplo e início de um novo ciclo

Em 2025, 118 países apresentaram novas NDCs, ampliando ambição e detalhamento. Dois movimentos ganharam força:

  • mais de 80 países apoiaram a criação de um roadmap global para transição longe dos combustíveis fósseis;
  • mais de 90 países respaldaram o roadmap internacional para acabar com o desmatamento, alinhado à urgência científica.

Um dos anúncios mais estratégicos foi o Acelerador Global de Implementação — um processo de dois anos liderado pelas Presidências da COP30 e COP31 para alinhar os planos nacionais ao esforço necessário para manter 1,5°C ao alcance.

Belém também lançou as bases de um novo mecanismo internacional de transição justa, voltado a ampliar cooperação técnica, capacitação e compartilhamento de conhecimento entre países.

Financiamento: mais recursos, mais mecanismos e novas vias de cooperação

O tema do dinheiro, sempre sensível, ganhou tração importante em Belém.
Entre os anúncios, destacam-se:

  • US$ 135 milhões destinados ao Fundo de Adaptação;
  • o Roteiro Baku–Belém, que projeta elevar o financiamento climático global para pelo menos US$ 1,3 trilhão por ano até 2035;
  • US$ 300 milhões para o Plano de Ação de Saúde de Belém, que fortalece a adaptação do setor de saúde;
  • lançamento de 13 plataformas nacionais e uma regional para mobilizar financiamento doméstico.

Além dos compromissos diretos, houve avanços significativos em reformas do sistema financeiro internacional, ampliação de aportes de bancos multilaterais, debt swaps e novos instrumentos financeiros. Um destaque foi a mobilização de US$ 6,5 bilhões para o Tropical Forests Forever Facility (TFFF), voltado à proteção florestal e à conservação comunitária.

Transição Energética: carvão em queda, metano em foco e trilhões mobilizados

A transição energética recebeu anúncios robustos:

  • A Coreia do Sul surpreendeu ao anunciar a eliminação antecipada do carvão e se juntar à Powering Past Coal Alliance (PPCA).
  • Mais de 80 países sinalizaram apoio ao roadmap para abandonar combustíveis fósseis, e 24 países assinaram a Declaração de Belém, liderada pela Colômbia — que antecipou uma cúpula temática para abril, em Santa Marta.
  • Mais de US$ 1 trilhão até 2030 foi comprometido para expansão de redes, armazenamento e infraestrutura de transição.
  • US$ 590 milhões foram destinados a esforços de redução de metano.
  • Governos e indústrias reportaram US$ 140 bilhões em projetos de indústria limpa, com um terço em economias emergentes.

Comércio e Clima: Brasil abre nova frente geoeconômica

A COP30 marcou um reposicionamento estratégico do Brasil no debate global entre clima e economia.
O país lançou o Fórum Integrado sobre Mudança do Clima e Comércio, criado para alinhar agendas comerciais e climáticas e oferecer um “espaço seguro de diálogo” entre reguladores.

Além disso, Brasil, União Europeia, China, Reino Unido e outros países — responsáveis por cerca de 20% das emissões globais — anunciaram a Coalizão de Mercado Global de Carbono, que coordenará metodologias de monitoramento, verificação, contabilidade e uso de créditos de alta integridade.

Povos Indígenas: protagonismo histórico em Belém

A COP30 registrou a maior participação indígena já vista em uma conferência do clima:

  • 900 representantes indígenas na Blue Zone.
  • Mais de 3 mil nos espaços oficiais e paralelos.

Houve ainda avanços concretos:

  • US$ 1,8 bilhão comprometidos com povos indígenas e comunidades locais.
  • Reconhecimento de 10 novas Terras Indígenas pelo governo brasileiro durante a conferência.
  • Lançamento do Compromisso Intergovernamental de Posse da Terra, assinado por 15 governos e destinado a reforçar direitos territoriais sobre 160 milhões de hectares — área equivalente à Mongólia.

Integridade da Informação: a “COP da Verdade”

Belém também consolidou um novo pilar da ação climática: a integridade da informação.
A conferência formalizou a chamada “COP da Verdade”, reconhecendo que combater desinformação climática é essencial para políticas eficazes.

Entre as decisões:

  • 18 governos assinaram a Declaração sobre Integridade da Informação.
  • A Iniciativa Global para Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas, criada em 2025 por Brasil, ONU, UNESCO e parceiros, alcançou 14 governos até o final da COP.

Um marco político e simbólico

Em meio a tensões internacionais, competição por recursos, mudança no perfil das grandes potências e riscos crescentes do aquecimento global, a COP30 mostrou que ainda existe espaço para cooperação — e que a transição climática virou, definitivamente, uma disputa geopolítica por relevância, segurança e prosperidade.

Belém entregou mecanismos, compromissos e caminhos. A implementação agora entra em um novo ciclo — e, como lembraram vários líderes ao final da conferência, o próximo passo será transformar cada anúncio em realidade concreta.

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