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Regeneração da Mata Atlântica avança, mas perda de florestas maduras persiste 

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Lúcia Chayb Diretora eco21.eco.br @eco21_oficial @luciachayb luciachayb@gmail.comPor trinta anos foi a jornalista responsável pela revista ECO21 (1990/2020)

Área florestal se mantém estável na última década; esforços na recuperação
de áreas já alteradas não superaram o desmatamento no bioma nos últimos anos 

Bioma com menor cobertura vegetal natural do país, a Mata Atlântica chega aos nossos dias com menos de um terço (31%) de cobertura vegetal natural. Entre os 67% de área ocupados por algum tipo de uso antrópico, o destaque é a agricultura, que foi a classe de uso da terra que mais cresceu no bioma, quase dobrando de área entre 1985 e 2024. É o que mostra um novo levantamento com os mais recentes dados sobre a Mata Atlântica da Coleção 10 de mapas de cobertura e uso da terra do MapBiomas, que está sendo lançado hoje (28/10) e que cobre as últimas quatro décadas de transformações no bioma.

“A vegetação natural da Mata Atlântica foi suprimida para abrir espaço para atividades humanas desde o início da colonização. Em 1985, ano de início da nossa série histórica, o bioma tinha apenas 27% de sua área florestal original”, explica Natalia Crusco, da equipe Mata Atlântica do MapBiomas. “De lá para cá, o ritmo de desmatamento foi diferente em cada uma das quatro décadas até 2024. Depois da promulgação da Lei da Mata Atlântica é possível notar inclusive um ligeiro aumento na área florestada do bioma”, completa. 

A década de maior perda florestal foi entre 1985 e 1994, quando 4,7 milhões de hectares de florestas foram convertidos para agropecuária – redução de 7%.  Entre 1995 e 2004, a área desmatada caiu 40% em relação à década anterior para 2,9 milhões de hectares de florestas, que foram convertidas para atividades agropecuárias. Entre 2005 e 2014 é possível notar os efeitos da Lei da Mata Atlântica. Nesse período, a área de recuperação foi maior que a área de conversão de florestas, com ganho líquido de 200 mil hectares. Entre 2015 e 2024, o cenário voltou a exigir atenção: as áreas de desmatamento e de recuperação se tornam equivalentes, mesmo após a aprovação do Código Florestal, em 2012, que tinha o potencial de impulsionar uma retomada da regeneração.

Nesses 40 anos, a perda de área florestal foi de 2,4 milhões de hectares, uma redução de 8,1% em relação à área de florestas mapeada em 1985. E apesar da queda no ritmo do desmatamento registrada entre 1985 e 2024, os últimos 5 anos apresentaram uma média de 190 mil hectares de floresta desmatada por ano. Cerca de 50% do desmatamento registrado em 2024, ainda acontece em florestas maduras (florestas com mais de 40 anos), que carregam grande parte da biodiversidade, estoque de carbono e são as principais responsáveis pelos serviços ecossistêmicos desempenhados pela floresta.

A área de formação campestre, por sua vez, sofreu uma redução de 28% em relação a 1985, com perdas anuais em todos os anos desde 2000. A conversão foi mais acelerada na última década, com uma média de 38 mil hectares perdidos por ano. Nos últimos 24 anos, cerca de 15% do desmatamento de vegetação primária no bioma ocorreu em áreas de formação campestre. 

Quando consideramos todos os tipos de vegetação nativa da Mata Atlântica, a perda foi de 11,5% entre 1985 e 2024. Apenas Rio de Janeiro e São Paulo apresentaram aumento na área de vegetação nativa no período. Apesar da perda na área de vegetação nativa nos últimos 40 anos,  os estados com maior proporção dessas áreas em 2024 na Mata Atlântica foram Santa Catarina (45%), Rio Grande do Sul (40%) e Bahia (39%).

No ano passado, o último da série histórica do MapBiomas, a Mata Atlântica tinha tanta área de floresta, mangue e restinga (25,3%) como de pastagens (25%). Agricultura (19%) e mosaico de usos (17%) completam a lista dos principais tipos de uso e cobertura da terra do bioma.  

Entre as classes de uso antrópico, a agricultura se destaca. Em 2024,  a Mata Atlântica concentra um terço (33%) da agricultura do Brasil. Ela cresceu 96% em relação à área ocupada em 1985, ganhando 10 milhões de hectares do bioma em 40 anos. Essa expansão deu-se principalmente sobre áreas de pastagem, que perderam 8,5 milhões de hectares de área no período. Uma pequena parte do aumento das áreas agrícolas no bioma se deu sobre áreas naturais, cerca de 10% das áreas agrícolas hoje eram áreas naturais em 1985. 

A lavoura temporária é responsável por 95% da agricultura na Mata Atlântica. Dentro desse grupo, a soja apresentou um crescimento de 343% (aumento de 8,3 milhões de hectares) no bioma entre 1985 e 2024, representando 26% da área nacional dedicada à cultura, com o Paraná respondendo por 52% da soja cultivada na Mata Atlântica. A cana-de-açúcar teve um aumento de quase 5 milhões de hectares (256%) nos últimos 40 anos, com o bioma abrigando 66% da área cultivada no Brasil e São Paulo respondendo por 68% dessa área na Mata Atlântica. 

Entre as classes de lavoura perene, a área cultivada com café cresceu 105% no bioma (445 mil hectares), que possui 70% da área nacional de café, e Minas Gerais concentra 62% do cultivo dessa classe no bioma. Já o citrus registrou um crescimento de 200% (96 mil hectares), com o bioma detendo 36% da área nacional e São Paulo respondendo por 88% dessa área na Mata Atlântica.

A silvicultura (cultivo de árvores para fins comerciais) multiplicou sua área em cinco vezes (aumento de 3,6 milhões de hectares) em 40 anos, ocupando 4,5 milhões de hectares em 2024.Mais da metade (51%) da silvicultura do país está localizada na Mata Atlântica. Santa Catarina, Paraná e Bahia somam mais de 60% dessa atividade no bioma em 2024. Cerca de 57% da área de silvicultura em 2024 já eram áreas antropizadas em 1985.

A Mata Atlântica concentra 51% da área urbanizada do Brasil em 2024, que duplicou (+133%) nos últimos 40 anos, com um aumento de 1,3 milhão de hectares. Três em cada quatro municípios (77%) tiveram expansão de até 5 vezes de sua área urbanizada em relação a 1985, com 10% dessa expansão ocorrendo sobre áreas naturais. Porém, mais de 80% dos municípios da Mata Atlântica têm áreas urbanizadas pequenas, com menos de mil hectares. Apenas três capitais têm mais de 30 mil hectares: São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.

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