O Contato, do diretor carioca Vicente Ferraz, aborda o cotidiano de três famílias indígenas nas telas de cinema
As histórias se passam em São Gabriel da Cachoeira, um dos municípios com maior extensão do mundo, com 23 etnias e 18 línguas indígenas
“O Contato” foi produzido pela Bang Filmes, de Juliana de Carvalho, com direção de Vicente Ferraz (Soy Cuba, o Mamute Siberiano, a Estrada 47 entre outros), e trata-se de um filme sobre um dos mais urgentes temas globais: a Amazônia. O documentário é totalmente falado em 4 línguas indígenas da região da cabeça do cachorro, também conhecida como tríplice fronteira: Brasil, Venezuela e Colômbia, onde convivem 23 etnias e 18 idiomas indígenas. O Contato teve estreia mundial durante a Mostra Competitiva do Festival É Tudo Verdade no Rio e em São Paulo, a estreia comercial nas salas de cinema será no primeiro semestre de 2024. Os patrocinadores do longa são: Austral, Valid, Civil Master e CSP.
São Gabriel da Cachoeira é um dos municípios com maior extensão do mundo: 109.184,996 km2 e tem 95 % da população composta por indígenas. O filme cobre cerca de 3.000 quilômetros de filmagens no entorno do rio negro. Toda essa diversidade de culturas e tradições ancestrais está refletida em mitologias, muitas vezes épicas, sobre a criação do planeta e da humanidade. A Cabeça do Cachorro, como é conhecida essa região do Brasil, mergulha na visão de mundo subjetiva dos povos originários de São Gabriel, contando a história da região por meio de seus personagens, os verdadeiros protetores da Amazônia. Aqueles que há séculos lutam para manter seus direitos, seus modos de vida e a floresta de pé.
A produtora Juliana de Carvalho explica como surgiu a motivação de fazer o filme: “Estive em São Gabriel pela primeira vez em 2017 para pesquisas iniciais, porém sem ter a certeza de que eu faria um filme. Num reencontro com antigas amigas com os mesmos interesses, em três meses organizamos a primeira expedição para a grande reserva indígena. Eu cheguei a São Gabriel com muito respeito. Nunca tinha tido contato com indígenas. Minha ideia inicial foi fazer entrevistas para me apresentar, falar da proposta de fazer um filme sobre a região e escutar o que os indígenas teriam interesse em contar. “O Contato parte do princípio de que a fala é indígena, apenas a transportamos para o formato de cinema. A ideia foi dar voz aos indígenas para que eles falassem o que pensam das próprias histórias e desafios sociais”, adianta Juliana.
Convidado por Juliana para dirigir o filme, o cineasta Vicente Ferraz conta como se deu o processo que levou ao roteiro do filme, assinado por ele e por Juliana: “Gosto de abordar essas histórias com uma visão humanista. Para chegar a São Gabriel, nós viajamos de barco durante quatro dias pelo rio Negro. No barco, encontramos Yanomâmis, daí já surgiu uma história: que era a dos índios levando um filme para ser visto na aldeia deles. A partir de histórias curtas tentamos mostrar a diversidade do lugar”, destaca.
“Este é um filme com narrativas paralelas, um espelho do Brasil. Procura oferecer uma visão diferente sobre a Amazônia da que se tem na região sudeste e no restante do Brasil, menos pré-concebida e maniqueísta. Foi realizado também vencendo muitos desafios, de ordem logística, de produção e no trato das relações humanas”, conclui Juliana.
Contrapartida social:
O processo de filmar em São Gabriel, além de destacar a região e contar ao mundo sobre seus personagens, também trouxe benefícios concretos: “A negociação com cada comunidade foi muito especial. Fazíamos um primeiro contato para falar das nossas intenções de filmar, daí reuníamos as principais lideranças e eles decidiam o que era melhor para a comunidade. Para os Baniwa reformamos o centro social, para os Hupdas construímos uma escola, os demais escolheram equipar escolas e associações com tecnologia”, detalha Juliana de Carvalho.